Do amor
Bem… Para falar de amor, terei de parar o relógio e suspender o tempo; mandar embora os empregados do coração, aqueles mecânicos fantásticos que fazem com que este órgão bata mais depressa; terei de retirar todas as borboletas que batem as asas dentro da minha barriga; terei de pedir a alguém que me mande spray anti-brilho para os olhos; terei de tirar as galinhas que tenho na epiderme e me deixam os pelos eriçados.
Para falar de amor, terei de contar até cinquenta e respirar fundo. Quero este momento só para mim. Porque quando falo em amor, falo numa coisa só minha, que gosto de partilhar com pessoas especiais. E quando dou, não divido. Multiplico. Parece estranho aos olhos da matemática. Mas há muitas coisas estranhas e fantasticamente belas.
Para falar de amor, terei de engolir um pacote de açúcar caramelizado. Assim, falarei de forma doce. Terei de me besuntar com creme hidratante, para falar de forma suave e delicada. Chamarei os violinistas que imaginariamente tenho nos ouvidos a tocar operetas à desgarrada.
Bem, quando falo sobre o amor, aquele que quero que seja para sempre, fico inquieta. Nunca acreditei em “para sempre”, mas este amor desejo que seja mesmo para sempre. E digo-o baixinho, a medo. Às vezes tenho medo de o perder.
Quando penso em amor, penso em correr pela praia, em ver o pôr-do-sol, em escrever cartas apaixonadas. Mas depois reparo que amor também é não me importar que ele coma da minha comida; que é ele não se importar que eu não use saltos altos. Reparo que é reparar.
Quando falo de amor, falo de forma atabalhoada e digo coisas meio parvas. E quando escrevo sobre amor, escrevo e apago, e engano-me nas letras, e parece que nunca encontro as palavras certas.
Não gosto muito da palavra “amo-te”. Acho-a feia e morta. Esta forma nasal com que a pronunciamos, com a boca meio fechada, faz-me confusão. Não gosto. Quando falo de amor, tenho vontade de me rir porque nunca sei bem o que dizer.
Acho que não sei falar sobre isso…
