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Sábado,
04 de Maio de 2024
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António Mário Lopes dos Santos

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Era Bom Poder Desenhar A Escrita Do Tempo

Homenagens e Decepções

 

 

 A minha reflexão desta quinzena assenta em dois temas essenciais: a primeira, de homenagem; a segunda, de mal-estar.

O lado positivo sobreleva o negativo.

1 - Comecemos pelo primeiro. O aniversário de José Tengarrinha, oitenta anos de cidadania e combate político, seis prisões no fascismo, comemorado neste último domingo no Centro de Congressos da Junqueira. A primeira imagem que tenho dele ficou-me do Congresso da Oposição Democrática, de Aveiro, em 1973. Mais tarde, depois do 25 de Abril, contactámos algumas vezes, como militantes do MDP/CDE, em reuniões, quer em Lisboa, quer em Torres Novas. Na altura que entrou, como professor, para a Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, ainda me inscrevi na cadeira que então leccionava, só que a actividade política desses anos de descoberta da liberdade me levaram à interrupção dum curso que só acabaria uns anos mais tarde.

Impossibilitado de estar presente no seu almoço de aniversário, não quero deixar de prestar homenagem ao democrata, ao historiador, ao político, a quem a partidocracia quase trucidou. «A política não me desinteressa, não lhe tenho amargura», respigo do texto de Nuno Ribeiro, em O Público de 14 de Abril. «Hoje, os partidos de esquerda não são suficientemente credíveis para mobilizar, limitam-se aos rituais das campanhas eleitorais». Nesta fase da sua vida, em que o avanço da idade não significa, como o reconhece e felizmente se observa, uma «irreversível decadência», e peremptório na sua linha de conduta: «não tenho apetite para a política, mas sim para os livros». E sobre a imprensa, de que é um investigador especializado: «Ponho em dúvida que a imprensa seja hoje um quarto poder, não lhe podemos atribuir a liberdade que é indispensável para a formação da opinião pública».

Um abraço, o meu profundo respeito, a minha total solidariedade.

Uma segunda homenagem, a um jornalista, Manuel Carvalho

Ante a absolvição, no campus de justiça em Lisboa, dos 11 arguidos da chamado «Caso Portucale», das acusações de tráfico de influências, abuso de poder, falsificação, entre outros crimes de que vinham acusados, pelo colectivo de Juízes presidido por Laura Maurício, o jornalista, numa reflexão intitulada «Nódoas Perenes», no Público de 13 do corrente, denuncia duma forma clara a conclusão da justiça feita neste caso. «Mais de 500 hectares subtraídos ao património do estado e vendidos, sem concurso, a 78 escudos por m2, despachos de ministros autorizando cortes de sobreiros ou financiamentos partidários de mecenas com identidades tão transparentes como a de um tal Jacinto Leite Capelo Rêgo são insídias que nunca existiram…» e conclui, após várias reflexões que considero duma dignidade rara no jornalismo que hoje se faz entre nós: «A desresponsabilização política e os limites da acção judicial não apagam o caso Portucale. A nódoa existe e, em vez de a limpar, o sistema dissimulou-a. Não foi um infeliz acidente: foi uma vergonha.»

Permita-se-me que acrescente um ditado popular: quando o dinheiro fala, a justiça cala.

2 - Passemos ao mal-estar. Dois temas, um nacional, outro concelhio.

Um sobre a Educação que o PSD do ministro Nuno Crato defende. Mais alunos por turma, mais exames, mais quantificação dos resultados, mesmo contra os pareceres europeus sobre os caminhos da divergência entre o conceito de educação neo-salazarista português, baseado nos resultados dos testes e dos exames, e o da Europa., assente na formação sociocultural do indivíduo. Claro que o orgulhosamente sós revive cada vez mais no programa dum governo assente em três És: Empobrecer, Envilecer, Emudecer. Para que a escola primária regresse ao seu papel de se saber escrever, saber ler, saber contar, ainda falta – mas não nos iludamos – a portaria do regresso à palmatória, conhecida pela menina dos cinco olhos ou à cana da índia, assim como ao pé descalço da fome e da miséria, que nunca passaram das primeiras letras, mas serviram de carne para canhão nas guerras coloniais de Salazar e Marcelo Caetano e na emigração com que a Europa (e não só) construiu na década de sessenta as suas cidades e indústrias. Dêem tempo ao senhor ministro e ao governo que integra, que a disciplina e o pé descalço regressarão, como uma bênção, ao ensino público, onde a subalimentação já ganha peso.

O assunto local assenta em dois tópicos:  

Um, na prática profundamente demagógica das inaugurações concelhias. Parafraseando o que os redactores da revista Seara Nova, no passado, faziam com sóbrio sarcasmo, sobre as inaugurações do Almirante Américo Tomás, limito-me à transcrição, sem comentário, do convite seguinte: «António Manuel Oliveira Rodrigues, presidente da Câmara Municipal de Torres Novas, tem a honra de convidar V. Exª. para o lançamento da Primeira Pedra da «Ampliação e Remodelação do Centro Escolar EB1/JI Visconde de S. Gião» em Torres Novas, que se irá realizar  no próximo dia 14 de Abril , pelas 12h00»

O segundo, no que Luís Ribeiro escreveu, no último número do semanário O Almonda: «felizmente, devido a alguém, que ainda está à frente dos destinos do concelho, houve uma remodelação total, para melhor, pelo que a nossa cidade não tem nada a ver com a que eu conheci, quando para cá vim.».

No campo da saúde, da educação, da vida associativa, da cidade  em ruínas, com grande desemprego, sopa dos pobres, miséria cada vez mais crescente dos trabalhadores e pequenos e médios proprietários, pequenos e médios empresários, endividamento público asfixiante, sem uma cada vez maior falta de soluções para os jovens à busca de primeiro emprego e inserção social, também concordo que o presente nada tem a ver com a vila onde nasci e a cidade que, após Abril de 74, até ao final da década de oitenta, se foi construindo, em condições de dignidade profissional e vida colectiva. E as conclusões que retiro sobre a acção do poder autárquico que elogia, são absolutamente opostas.

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