o riachense

Sábado,
04 de Maio de 2024
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António Mário Lopes dos Santos

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Era Bom Poder Desenhar A Escrita Do Tempo

Homenagens e Decepções

Um local chamado protectorado germânico em lapela nacionalista

A memória dói-me. As onze cantinas sociais que vão servir 260 refeições diárias no concelho relembram-me Torres Novas antes de Abril, com a sopa dos pobres da Misericórdia e os anuais cortejos de oferendas em que as populações ofereciam do pouco que tinham a sua solidariedade, numa mistificação do poder associado intimamente à igreja católica do cardeal Cerejeira e dos seus acólitos a nível do distrito e do concelho. A pedinchice não impedia que o investimento maior viesse, e bem, de subsídios e investimentos do Estado. A assistência não ia além das intervenções cirúrgicas de pequena monta ou de tratamentos de urgência provocados pelas epidemias de carácter sazonal. Os casos mais graves não tinham soluções, só paliativos e a sempre presença do presbítero para a extrema-unção e o encomendamento da alma.  
A função social do Hospital concelhio só começou depois de Abril, na sua nacionalização. Não só na sua amplitude de oferta de serviços externos, consultas, ambulatório, enfermagem, exames múltiplos, fisioterapia, radiologia, análises clínicas, como uma enorme amplitude de tratamento de especialidade e cirúrgico, que gerou uma fama e importância distrital ao Hospital, transformado em Distrital de Torres Novas. Diga-se duma vez. Só quando se libertou da mentalidade dependente da religiosidade, em que a salvação da alma superava a cura do corpo, libertando-se da Misericórdia, o Hospital se tornou um lugar da ciência, do combate da vida contra a morte, mesmo sabendo que esta tem a última palavra.  
O conceito hospitalar que, hoje, no Centro Hospitalar do Médio Tejo, se vai instalando, com a bênção duma igreja intimamente ligada à democracia cristã e ao neo-liberalismo dos papa-hóstias ao domingo e rapinantes, racistas, hipócritas e vendilhões do templo durante os seis dias úteis da semana, aproxima-se de forma muita aproximada da que apostava na salvação da alma, e não na do corpo. 
Não se trata mal ninguém, mas não se faz um esforço sério para uma medicina séria. E a incompetência começa a ganhar poder, porque em Portugal, sabe-se que a justiça só se aplica a quem não tem, de perto ou de longe, relações com gente do poder ou de partidos. O meu caso pessoal, duma pseudo-cirurgia feita em Tomar este ano, por quem nunca me observou e me diagnosticou uma doença mortal que os exames posteriores negaram, com um relatório que guardo, para uma curta vida relativa, sem uma palavra de esclarecimento ao doente e à família, não revela a mínima ética profissional de alguém que é cirurgião, mas não sabe o que está escrito no juramento de Hipócrates. Não apresentei reclamação, nem na Ordem dos Médicos, nem em tribunal, porque nenhum desses órgãos trabalha, na minha opinião, com respeito à Constituição. Se o fizessem não haveria tanta medicina em busca do eldorado e da rapina e tanto gatuno político dos diversos partidos, quer do poder, quer da oposição, nas câmaras, na administração, nas assembleias políticas, nos ministérios, a viver à custa da ignorância premeditada e do sofrimento dum povo. O meu caso, felizmente, foi apenas o sopro dum tsunami que começa a transbordar e ameaça inundar tudo. O que se conta, desta gestão do corte e costura dum orçamento que corta em actos médicos, medicamentos, exames complementares, análises, papel higiénico inclusive, mas não em mordomias, automóveis, ajudas de custo, deslocações, cartões de crédito, medicina privada, só aumenta o medo de se estar doente e cair num destes hospitais. Lembra Dante, na Divina Comédia: perdei toda a esperança, ó vós que entrais. Será que o Ministro e secretários da Saúde, quando doentes, vão para as urgências dos Hospitais Públicos, hoje geridos por engenheiros e militantes do PSD e do CDS, de norte a sul do país, com a disciplinada missão de os subverter, até poderem ser entregues aos grupos económicos de interesses privados, que lhes guardam cargos de administradores após se transformarem em ex-ministros?
Quando se aceita o que se fez ao hospital que houve em Torres Novas, quer da parte do poder político concelhio, quer das estruturas regionais e nacionais de saúde, quer dos partidos políticos que estiveram em todas, participaram em todas, aceitaram todas as mudanças, sempre em luta, sempre dialecticamente à espera de que o futuro obrigue o passado a mudar, e continuam a controlar a participação, o queixume, a dor, o sofrimento, a revolta, num jogo de parada e resposta em que poder e oposição se entendem e só falam grosso em público, há muito pouca seriedade a oferecer a quem, com ou sem taxa moderadora, entra as portas da urgência deste Hospital para, se sobrevivo, passar horas no hospital de Abrantes e finalizar no de Tomar. Ninguém lhe paga o regresso, se ainda vivente, ninguém inquire da sua família, ninguém lhe fornece, além das refeições, o chá e simpatia dos amigos do hospital, uma forma de defesa dos seus direitos constitucionais, ninguém o vê como Abril o tentou ver: humano.
À minha volta, na sociedade, no mundo dos meus amigos, na conversa com simples conhecidos, no meu espaço familiar, instala-se, venenosa, cada vez mais visível, uma cobra de medo. Assume, na sua impassibilidade enganosa, a expulsão do Éden. O português, a partir da entrada na CEE, dos fundos comunitários, descobriu que Cavaco Silva, Mário Soares, António Guterres, Santana Lopes, Durão Barroso, José Sócrates, ultrapassaram, pelos caminhos ditos democráticos do poder, a mediocridade social em que viviam e, com um cartão de partido, alcandoraram-se a um lugar que os libertou do salário mínimo nacional e do rendimento mínimo de inserção, como dos restaurantes dos 5, 6 ou 7,5Euros, aliás bem mais caros do que o restaurante de luxo da Assembleia da República. Mas não os deixaram sequer espreitar o mundo de progresso e desenvolvimento que lhe foram prometendo, a troco do voto, enquanto se instalavam no bem-bom do mundo de isenção.
A memória, repito, dói-me. Quando leio que a ministra neo-conservadora alemã Meckel vem visitar o protectorado colonial em que Portugal, sobre a batuta de Cavaco Silva, Passos, Relvas e Portas, se transformou, para garantir que, estejam à vontade, eu sustento-os, entendo que os estivadores mostrem o rabo à guarda pretoriana do poder político frente à Assembleia da República, ou se grite, nesse local, que os gatunos estão lá dentro e a polícia à porta, a protegê-los. O exagero, mesmo no extremo, tem alguma eficácia. Quando o poder treme, a democracia popular ganha alguns direitos. Vasco Lourenço, na sua diatribe e, talvez, remorso dum 25 de Novembro que envenenou o caminho dos capitães de Abril, ou Otelo, nas sua anarquice parvoenta, merecem mais compreensão, que uma CGTP comunista ordeira e defensora das regras políticas da democracia burguesa. E fico-me na dúvida do processo histórico: quem derrubou Sócrates, não terá capacidade para derrubar Passos Coelho/Relvas, essa forma ambígua de medusa na forma de rosto duplo como Janus? Ou a Angola do MPLA sustém-lhe, ideologicamente, a combatividade? E eu quero acreditar que a luta continua…
A democracia tem as suas regras, mas quando o rio transborda, quem paga os estragos nunca é quem provoca a inundação. Protegidos pela Opus Dei, a Maçonaria regular, o petróleo e os diamantes angolanos, os euros alemães, o narcotráfico colombiano, a corrupção do novo capitalismo brasileiro, os medias nacionais como apêndices das suas directrizes administrativas, o neo-liberalismo do chá patriótico aprendido nas administrações dos fundos comunitários da formação inexistente, da ilhas atlânticas a Timor, tudo lhes serve para se transformarem em nacionalistas europeus, distinguidos na lista dos amigos do alheio da senhora ministra Merkel, governadora delegada  da finança do protectorado português.
A memória dói-me. O fascismo tenta regressar, país. Com tanto morto e torturado por ti, ainda te acobardas?
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Actualizado em ( Quarta, 14 Novembro 2012 12:40 )  
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