o riachense

Quarta,
24 de Abril de 2024
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Joaquim Alberto

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A festa da Bênção do Gado

 Creio que o nosso jornal é um excelente meio para discutirmos a melhor maneira de vivermos neste mundo, em especial na nossa terra. Creio também que uma das melhores realizações colectivas dos Riachenses é a Festa da Bênção do Gado. Creio também que a discussão com a cabeça fria ajuda mais ao progresso das ideias do que a discussão com a cabeça quente, como me pareceu que foi o caso quando a Célia Barroca e o Carlos Tomé iniciaram o debate no mês de Setembro passado. Por isso creio que será bom para a próxima Festa começarmos a reflectir publicamente a partir de agora. Já passou o tempo suficiente para que as pessoas sejam capazes de discutir com serenidade e ainda temos 3 anos antes que as cabeças comecem de novo a aquecer e por isso seja mais difícil a reflexão e discussão. Agora é fácil e possível. Pela minha parte vou tentar pôr no papel aquilo que todos estes anos me foram ensinando. Vamos a ver se o consigo fazer.

 

Quando eu era pequeno, ainda uma grande maioria das pessoas da nossa terra ia à Missa todos os domingos. E aqueles que lá não iam todos os domingos, iam algumas vezes por ano. Os que nunca iam à igreja eram poucos. Mas quantos iam à Missa por convicção e militância? Nunca o saberemos. Agora, a percentagem dos que frequentam a igreja é muito menor, mas a percentagem dos que vão por convicção é muito maior. Creio eu. De qualquer modo, gostaria muito que assim fosse.

Desde o princípio, a humanidade tem estado sempre a evoluir, mas só agora é que é possível cada um ser o que quer ser. Pode ser crente ou agnóstico. Pode ser religioso ou ateu. Pode ser militante ou indiferente. Em minha opinião, isto é o resultado de um grande progresso. Cada um é “obrigado” a ser o que quiser. O que faz com que cada pessoa tenha cada vez mais responsabilidades. Individuais e colectivas. Mas esta possibilidade ainda não existe em todo o mundo. Felizmente já existe na nossa terra. Felizmente. Assim nós saibamos conservá-la e desenvolvê-la. Sem aceitarmos os outros como eles são, não é possível nem liberdade nem democracia. Felizmente, Riachos está numa região do mundo onde tudo isto já é possível. Mas não era assim ainda há somente 50 anos. Sem o 25 de Abril isto não seria possível.

A história que vou contar, contou-ma o meu avô. Foi há menos de 100 anos. Nos tempos da primeira república. Saiu uma lei a proibir o toque dos sinos da igreja antes do sol-fora e depois do sol-posto. Naquele tempo poucos tinham relógio. Era o sino que avisava as pessoas. Em Riachos havia uma Missa aos domingos de madrugada, as pessoas rezavam as Ave-Marias, havia à noite oração do terço, e tudo isto era avisado pelo sino. O que passou a ser interdito. Então um grupo de jovens daquele tempo, armados de foices roçadoiras, de forquilhas e de paus, foram buscar o sacristão quando já era noite e obrigaram-no a tocar o sino até as autoridades chegarem. Quando o regedor chegou não teve outro remédio do que aceitar a realidade. E o sacristão passou a tocar o sino sempre que fosse necessário. Sem interdições.

Outra história que toda a gente conhece foi com a Filarmónica. Por motivos políticos e religiosos passou a haver duas. A velha e a nova. Os Caraças e os Malhados. Algumas famílias completamente divididas. Também foi no tempo da primeira república que o nicho que então existia foi destruído.

“Se não vives como pensas, acabas por pensar como vives”, diz um velho e verdadeiro ditado. As pessoas vivem em comunidade, por isso todos dependemos muito da pressão que é exercida pelos diversos colectivos. Embora agora a liberdade individual seja muito maior do que era antes, cada pessoa ainda depende muito dos diversos grupos onde está inserido. Ninguém é totalmente livre individualmente. Mas nunca a liberdade individual foi tão grande como agora. Todo este palavreado, para tentar situar as minhas reflexões sobre a NOSSA FESTA.

A Festa da Bênção do Gado é a principal manifestação de cultura popular que existe em Riachos, não é uma festa profana ou religiosa, é uma festa ao mesmo tempo profana e religiosa, isto é, tem sempre as duas componentes. Pode ter algumas actividades que não são religiosas, mas dificilmente terá actividades só religiosas. Mesmo o Cortejo nunca pode ser uma actividade só religiosa. Mas quando há actividades que são ao mesmo tempo religiosas e profanas e quando não há antagonismo mas sim complementaridade, quando tudo isto se faz sem guerra, creio que uma sociedade que já atingiu esta fase, é qualquer coisa de maravilhoso. Creio que todos devemos fazer tudo para que esta harmonia se desenvolva cada vez mais, creio que devemos fazer tudo para que a guerra, principalmente por motivos religiosos, nunca mais tenha lugar na nossa terra. E creio que seria mau tentar separar o religioso e o profano. A Festa não seria a mesma, seria outra coisa qualquer.

Segundo Jesus Cristo, a Igreja é como o sal na comida ou como o fermento na massa. Quando é de menos, não faz efeito praticamente nenhum. Quando é demais dá inquisição, dá islamismo… O sal deve estar na comida para lhe dar bom sabor, não para a tornar salgada. Assim deve ser a presença da Igreja na sociedade e na Festa. A Festa não é só religiosa nem é só profana. É as duas coisas ao mesmo tempo. Será óptimo se nenhuma das partes for mais importante do que a outra. Isto só se consegue se todos puderem participar, sejam quais forem as suas ideias.

Não conheço, na nossa região, outra festa com tanta participação popular. E, apesar de tanta gente e tantos grupos participarem na preparação e no desenrolar da Festa, os consensos têm sido sempre possíveis. O que prova que podem continuar a ser possíveis. Gostaria que todas as pessoas que têm ideias sobre a Festa aproveitassem este tempo para as apresentarem, para as debaterem, para as defenderem. Mas sempre com um só objectivo: chegar a consensos de tal modo que mais pessoas participem e assim a Festa seja sempre cada vez melhor.

Quero dar aqui um grande abraço à Célia Barroca e ao Carlos Tomé que antes de mim deram início ao debate. Espero que continuem a discutir as suas ideias com a maior objectividade possível e assim ajudem mais leitores a participarem e a dizerem o que pensam. Para que os consensos se atinjam cada vez com maior facilidade e a Festa seja cada vez melhor, porque ela é de todos.

 

 

Actualizado em ( Quarta, 20 Fevereiro 2013 23:11 )  
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