Eles não querem?
Rui Tavares afirma-o de forma peremptória: eles não querem. Refere-se aos partidos da esquerda portuguesa. Transcrevo, para que não me acusem de perseguição. Os partidos de esquerda em Portugal não se entendem por uma razão muito simples: eles não querem. E «eles» são as direcções nacionais. E conta uma história saborosÃssima como prova da argumentação. O caso de Caminha, onde militantes do PS, PCP e BE resolveram conversar, a fim de ver se seria possÃvel lista comum para a autarquia, há 12 anos nas mãos do PSD. Depois da 1ª reunião, o PCP, por directrizes do topo, abandonou a convergência, continuando o BE e o PS. Chegaram estes a acordo para uma candidatura comum. Só que a direcção nacional do BE negou esse caminho e desvinculou-se dos bloquistas locais. Creio que se poderiam contar largas dezenas de histórias similares um pouco por todo o paÃs.
Se é possÃvel uma linguagem comum, porque se não dá o salto comum? Que dizem querer as esquerdas partidárias afinal? Uma nova Europa. E, no paÃs, um novo caminho para Portugal. Sem muito esforço, era capaz de arranjar, nos seus programas polÃticos, vinte pontos comuns que permitiriam, um governo de esquerda, um presidente de esquerda, autarquias na sua maioria com listas unitárias de esquerda. No curto, médio e longo prazo, um caminho comum, assente, na democracia social, nos princÃpios da liberdade, do direito à diferença, do respeito pelo outrem, do diálogo contÃnuo, da transparência na intervenção colectiva. Dum paÃs para os cidadãos, mas governado pelos cidadãos. Não tenho a menor dúvida de que os partidos polÃticos são necessários à democracia, mas também creio que estes partidos polÃticos necessitam de inscrever a coordenada mudança temporal na sua burocracia de eternidade. E reflectiram em algo muito simples: cada vez mais os seus esforços isolados atingem cada vez menos resultados. O que se tem perdido nos últimos anos no campo dos direitos humanos, sociais, económicos, polÃticos, dava para sessões contÃnuas de tratamento traumático, se as elites polÃticas reagissem com simples humanos na luta pelo quotidiano . Duma coisa me apercebo que cada vez mais lhes falta junto dos cidadãos: credibilidade.
Afinal, tudo se torna simples, como a roda da vida. Tudo muda, mesmo o que se julga que não muda. Eles não querem, denuncia Rui Tavares. Pior para eles. Queremos nós.
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