o riachense

Terça,
16 de Abril de 2024
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António Mário Lopes dos Santos

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Hoje decididamente não falo de Torres Novas

Era Bom Poder Desenhar A Escrita do Tempo

Esta semana, após verificar mais um atentado contra a memória da história, que foi a destruição da chaminé da fábrica de Fiação e Tecidos, deixo em paz a política concelhia.  A miséria partidocrática é tão grande, que mudar de tema é como um doente  transportado entre os três hospitais do Médio Tejo (ó vós que aqui entrais perdei a esperança, que quem manda é o Esperancinha) só porque recorreu às urgências de Torres Novas e muitas, mesmo muitas, horas depois do sangue percorrer a via sacra vice-versa de Torres Novas-Abrantes-Torres Novas, se descobriu que aquela tosse necessitava de mais meia dúzia de horas à espera em Abrantes num corredor implacável para lhe ser diagnosticado algo que só a cirurgia poderia resolver e daí para Tomar, mais um longo compasso de espera e novo percurso até à terceira cidade onde só o milagre templário lhe permitiria um diagnóstico de regresso ao início e recomeçar de novo.

Benditos deputados maçónicos do PS e do PSD que tanto têm trabalhado em prol da humanidade, ao esvaziar o hospital da Santa Isabel, este mês festivaleiro que um autarca mestre em História descobriu ser mercancia que valha para lavar as meninges dum povoléu desatento, curvado e agradecido, ainda que a saúde entregue, a breve prazo, a uma sociedade angolana-corticeira-espírito santo de esguelha, lhe seja o cartão de saída para onde se lhe reservam todas as alegrias do mundo junto dos anjos de asas brancas, gente de bem e de algo, beatas sofredoras que, por rezas e rosários, procuram em Fátima o que lhe faltou no quotidiano da existência.

Num país à pele, serviria para a crónica, à sorrelfa o Coelho, sem espaço de manobra no texto que vou tecendo. Eu sei o que é o sofrimento, o desemprego, a miséria, a empresa falida, regougava há dias no aniversário do PSD Passos Coelho para uma televisão de cócoras ao serviço da imbecilidade mental que nos governa. Pusesse ao menos em leilão os submarinos do Portas, com quem Mário Soares diz que andam a fazer chantagem, mas nenhum delegado do procurador público, nenhum juiz agarra com mãos de justiça. Se me acusarem, arranjo dois advogados de cartola, uma lista de testemunhas incluindo os comentadores políticos dos quatro canais da estupidez nacional, que o tribunal que me quiser julgar tem serviço e ajudas de custo para uma boa meia dúzia de anos. Não ignorarei os VIPs, os Rebelos de Sousa, os Marques Mendes, os Barretos, os Xavieres, os economistas todos que pululam a fazer a ronda dos almocreves bufarinheiros dos negócios com que nos enganam e nos exploram. E ainda há muito Cordeiro, Carneiro, Relvas, no périplo do arco do governo das maçonarias legalizadas/políticos/forças secretas/militares/imprensa, que me ficaria pelo «A Câmara de Cascais é a maior empresa de boys do PSD (Visão, 6/6)» a acrescentar a essa lista infindável de nomes com que se entopem os julgamentos e se põe a justiça no prego, como algo desnecessário, caro, sem crédito.

Leio, nessa revista, de coração desmanchado, o sempre nobilizável António Lobo Antunes – não trocaria um só poema da Colher na Boca, do Herberto Helder, por toda a novelesca daquele que, não há muitos anos, foi o presidente da Comissão de Honra do socialista António Rodrigues, para a eleição à Câmara de Torres Novas, e a quem foi prometido, pelo irmão arquitecto e vereador, uma casa refúgio na escola de O Almonda e uma casa museu na que é hoje ainda (até quando, Catilina,abusarás da nossa paciência, comentava Cícero no Senado romano, já antes da era dita de Cristo) a sede da edilidade. Perdeu Lobo Antunes um leitor e um defensor, além da casa refúgio, da casa museu, o irmão o cargo de vereador, alguém se ri no meio disto, o Mefistófeles de que muito escreveu no século XIX o grande poeta Gomes Leal? Quem não se sente, não é filho de boa gente. E a minha filha família, democrata e republicana de quatro costados, avô carbonário e barbeiro, melómano e artista, os outros, poetas, músicos, artistas amadores, sempre com os bolsos das calças virados do avesso, nunca querendo ser senão mais um de entre os outros, «nunca o maior escritor do mundo». Bastavam-lhe, na mesa colectiva da família numerosa, algumas sardinhas divididas por muitos, e o coração do lado esquerdo, como dizia o poeta Carlos de Oliveira, o lado certo do mundo.

Não vou falar de mais nada senão do direito à greve da classe a que pertenci – os professores. E lembrar aos palradores políticos que os professores, façam ou não greve, também têm filhos, e não nos colégios privados de elites de luxo, ou nos de Inglaterra, Suíça, Estados Unidos, por onde os pais se refugiaram para se não misturar com a «escumalha» pública, mas nas escolas que eles, donos do poder da mandança, tentam fechar. E se vier a greve geral, também alinho. Não pelos partidos, nem pelos sindicatos, mas pelo português que tem servido de capacho para que os donos deste país se regozijem da austeridade necessária, no intervalo da sua lagosta à Termidor, num restaurante de luxo do planeta. Com um cartaz na alma a dizer – Canalha, rua.

Hoje decididamente não falo de Torres Novas.



 6 de Junho de 2013 

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António Mário escreve sempre às quintas-feiras em www.oriachense.pt 

Actualizado em ( Quinta, 06 Junho 2013 17:50 )  
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