o riachense

Quarta,
24 de Abril de 2024
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A Capital da Coisa 
Confiante, o edil olhou para a massa municipal que aguardava as suas palavras e declarou “de agora em diante, a nossa terra é a Capital da Coisa! A Coisa é o centro de tudo. Ela é a nossa rainha e senhora!”. A aclamação foi de tal ordem que hoje, mais de uma década depois, ainda se ouvem os ecos. E pouco mais.
Portugal, subitamente, tornou-se um país de “Capitais”. Já não bastavam as Capitais de Distrito, com os seus vice-reis, também chamados de governadores civis. Todo o Presidente de Câmara que se prezasse queria ter a sua própria “Capital”. Nalguns casos foi necessário muito rebuscar na apatia e insignificância do concelho para se descobrir como tornar o local a Capital de alguma Coisa. Noutros, a tarefa estava facilitada. A Coisa já lá estava. Era só pegar nela. E vendê-la. Pô-la a render. 
Veja-se Almeirim, a Capital da Sopa-da-Pedra. Poderia ser Almeirim capital de qualquer outra Coisa? Podia, mas esta era garantida. E pouco trabalho deu.
O Cartaxo é a Capital do Vinho. Claro. Entroncamento, do Comboio, obviamente. E toda e qualquer uma destas Coisas, é evidente que serve para que de alguma forma, aos munícipes da “Capital” em causa, revertam em seu favor, das suas vidas pessoais, dos seus empreendimentos locais, os lucros, os benefícios, as mais-valias proporcionadas pela dita.
Outros, porém, optaram por uma diferente via: canonizaram a Coisa. Tornaram a Coisa santa. Não servia tanto assim para vender ou render. Era para adorar. E de romarias vivem hoje, procissões à Coisa que os munícipes se habituaram a ver num altar a maior parte do tempo, sem que dali lhes venha substancial alteração na sua vida. Dali não vem pão.
Dali vêm intenções, projectos e experiências com curto prazo de validade. Dali vem, sobretudo, usufruto para poucos. Dali vem, também, protagonismo para alguns. A Coisa que se pretendeu “capitalizar” deixou de ser um meio para atingir um objectivo, para se tornar ela própria um objectivo. 
É isto que acontece com a Golegã Capital do Cavalo. Ninguém duvida que os pergaminhos são mais que suficientes para tal denominação. O Cavalo é da Golegã como será de pouquíssimas outras cidades ou vilas deste País. Mas se olharmos para as duas últimas décadas com olhos de ver, não ofuscados pelo fogo-de-artifício, não podemos honestamente concluir algo que não seja que o Cavalo não se traduziu numa significativa oportunidade de melhoria de vida e de condições económicas para a MAIORIA dos munícipes do Concelho. Entre Golegã, Azinhaga e agora Pombalinho, a “economia do Cavalo” é residual. 
Não bastam romarias anuais à capital do Cavalo. Não bastam rotas que duram poucos meses, como a do “Cavalo, do Vinho e do Touro”. Colocou-se o Cavalo num altar, ao qual se fazem duas peregrinações já rotineiras: o São Martinho e a Expoégua. Alguns ganham dinheiro nessa altura. No resto do ano, o que se ganha com o Cavalo? Não falo das coudelarias, falo do comum Munícipe e das restantes actividades económicas do Concelho.
Há dias o edil da Golegã acusava a tutela do turismo na região de não ter nem “perfil nem competência” e de aí grassar a “inépcia, ineficácia e a ignorância”. Ao que a tutela respondeu que “tendo consciência do potencial que representa a identidade da Golegã com o Cavalo”, o “projeto de estruturação e promoção do Turismo Equestre (…) será objecto de promoção”…
Uma década depois, falamos ainda de “potencial”, “projectos” e “promoção futura”? Mas este trabalho não devia estar já concluído? É agora, que até se considera abater os cavalos para alimentação humana, por falta de “rentabilidade”, que estão criadas as condições para fazer da “fileira do Cavalo” uma fonte de rendimento substancial para o Concelho e para os seus munícipes? Não me parece. Não foi feito o necessário. Não está a ser feito o suficiente. E o futuro não é tão brilhante como parece nas cerimónias de inauguração.
E antes que alguém me venha acusar de ignorância e atrevimento, eu li o estudo “Potencialidades e oportunidades da Fileira Cavalo no Vale do Tejo”…
“O Cavalo é o centro de tudo, ele é nosso rei e senhor”, afirmou o edil goleganense ainda recentemente.
Não, não é. O cavalo serve o homem, não o contrário. 
Actualizado em ( Quarta, 12 Junho 2013 16:40 )  
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