o riachense

Sexta,
19 de Abril de 2024
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Elisa Lopes

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Há homens que parecem tocados por Deus
Solidão. Provavelmente um dos maiores receios da humanidade.
Falar sem ser escutado. Dirigirmo-nos ao mundo e não haver ninguém que nos oiça.
Enfrentar as adversidades sozinho.
Despirmo-nos de conceitos e procurar nova identidade. Procurar identidade.
Lutar para nos erguermos do chão. Lutar constantemente para nos erguermos do chão… E erguermos do chão… E erguermos do chão…
Podia-se dizer que este é o retrato do homem da actualidade, o homem fruto da actualidade! O esmifrado homem da crise a tentar re-erguer-se, muitas vezes a lutar contra os seus pré-conceitos, re-inventando-se e tentando lutar por todos os meios ao seu alcance e superar as adversidades. 
Mas falo-vos de um soberbo espectáculo que subiu ao palco do Teatro Virgínia: “The Old King”. Tudo começa quando Romeu Runa (bailarino) se reencontra com Miguel Moreira (encenador) em estúdio. O ponto de partida é uma imagem do artista plástico português Daniel Blaufuks: um homem está sentado, tem a cabeça baixa, agarra um livro nas mãos, tem uma gravata, uma esferográfica no bolso da camisa e um relógio. A partir daqui, a liberdade de criação é total. Observa-se a imagem e imagina-se que história tem aquele homem, sobre o que pensa, como se relaciona com os outros, etc. Este homem de Romeu Runa e Miguel Moreira procura encontrar-se com o seu pensamento, com a sociedade, procura o seu lugar, a identidade.
Em palco está um homem sentado de costas para o público, de cabeça baixa, num espaço cénico aberto mas ao mesmo tempo constrangido pelos materiais que nele se encontram.
O homem começa por mover apenas o tronco, parece constrangido nas suas extremidades, mas à medida que o tempo avança, os movimentos outrora contidos contagiam os restantes membros do corpo, parece que todo ele se quer mover, mas mantém-se sentado, contido, com o peso da sua cabeça a pender para o chão. Finalmente, quando se levanta, o seu corpo adopta uma posição não convencional, estranha. Este homem não está de pé, parece não conseguir erguer-se. E quando finalmente o faz, aparece um outro homem de arma em punho para o derrubar (talvez não tenha sido com esta ligeireza que criaram este momento, mas naquela altura, eu só consegui ver dois homens, um frente ao outro, um lançava um jacto de água fria, poderosa, que não deixava o outro levantar-se do chão e avançar, por mais que quisesse).
Depois, despido de força, despido de calor, despido de parte da roupa, este homem volta a erguer-se. Ocupa o seu lugar inicial, mas agora vasculha no chão pontas de cigarros e um livro, agarra no microfone e balbucia: “Bad days… I used to have some bad days…” Maus dias… Já tive alguns maus dias… (traduzi eu) E num perfeito acto de insanidade (ou não) percorre o palco em busca de uma estrutura que o eleve mais alto que os restantes espectadores. Dirige-se a eles. Tenta falar. Mas da sua boca não saem mais que grunhidos e gritos (será que é ele que não se dá a entender? Ou seremos nós que não o entendemos? Pergunto-me eu durante o espectáculo).
O rei coroa-se a si mesmo. E, ao som de Wagner, despe a sua alma perante o público que assiste. Mas depois da alma, que mais nos restará? E o velho rei despe-se por completo, despe toda a roupa, encaracola-se arredondando o seu corpo como um feto, numa desesperada tentativa de se esconder. Parece um recém-nascido. E será que não o é...?
Talvez tão homem, tão velho e tão rei como este rei, Romeu Runa afirma numa reportagem à RTP: “para mim, não pode haver limites. Estou sempre à beira do abismo. Não tenho medo de errar”.
Num tempo em que tanto se questiona onde pára o dinheiro dos contribuintes, existem contribuições maiores do que tudo o que é material. Questionar sim, o lugar da humanidade e do indivíduo no mundo! É o que arte faz!

 
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