o riachense

Sábado,
04 de Maio de 2024
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João Luz

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Um novo ciclo, ou mais um ciclo?

Horas antes da tomada de posse da recém eleita Assembleia de Freguesia de Riachos, alguém me dizia que eu "tinha caído aos trambolhões na política". Passei um dia inteiro a pensar nesta afirmação, inclusive, durante o protocolo de tomada de posse, no qual me vinculei ao mandato que me foi atribuído por uma pequena mas significativa parte da população riachense. Enquanto via e ouvia o novo presidente da Junta ameaçar algumas pessoas que as obrigaria a sair da sala caso perturbassem os trabalhos em curso, não parava de pensar se terá sido um trambolhão estar ali sentado a presenciar um certo (ab)uso de autoridade, ou se o trambolhão maior está por vir, uma vez que a autoridade, enquanto prática reguladora, formal ou informal, é um aspecto que considero sempre questionável, quer quanto à sua origem, quer no que respeita às suas consequências.

O momento que vivemos propicia o reforço de atitudes autoritárias, tal como podemos ver nas pequenas coisas do nosso dia-a-dia. Historicamente, é nos períodos de maior desintegração social que surgem, talvez em consequência disso mesmo, protagonistas que recorrem à lei para mostrarem a sua intransigência. O que sabemos é que a lei de hoje pode deixar de existir amanhã, porque as leis, no seu sentido burocrático, são feitas à medida de quem exerce o poder, e este, invariavelmente, muda de mãos e de consciências de tempos a tempos. Hoje, pelos vistos, seguimos uma tendência de imposição autoritária. Se a nível de política nacional isso está mais do que à vista, a nível local, felizmente, poderá não ser assim. No entanto, não deixa de levantar alguma preocupação.

A composição da Assembleia de Freguesia de Riachos resultou de uma repartição de votos que, à partida, não permitiria ao executivo da Junta adoptar um estilo de governação assente no autoritarismo. Fazendo uma leitura imediata, vemos que os partidos ditos "de esquerda" representam o dobro dos mandatos da lista mais votada, o que deveria levar a uma forte negociação das soluções para os problemas de Riachos, ao contrário de uma forte imposição de soluções pré-determinadas. Aqui, todavia, surge o PS como elemento fulcral de todo este processo. Deixando de lado a CDU e o BE, foi feito um acordo entre PS e GRUPPO no sentido de obterem a maioria absoluta nos órgãos da Junta. Isto não só inverte a lógica que resultou dos votos expressos nas eleições, como poderá vir a legitimar o regresso de um certo autoritarismo, tal como ficou evidenciado na tomada de posse. É aqui que surge o possível trambolhão, não para mim, claro, mas para toda a comunidade riachense.

A última coisa que Riachos precisa neste grave momento, é de um único protagonista que imponha a sua vontade, ou que decida isoladamente. A posição do PS será decisiva na medida em que poderá fazer pender o fiel para um lado ou para o outro, isto é, entre um projecto participado conjuntamente pela população e por todos os seus representantes políticos eleitos, ou entre medidas avulsas propostas ou decididas pontualmente pelo presidente da Junta, com o óbvio apoio dos elementos da sua lista e do PS. Ou seja, se democraticamente os riachenses revelaram uma distribuição equilibrada de mandatos, as leis de quem governa permitem criar maiorias autoritárias que distorcem a vontade expressa nos votos. Aquilo que a lista mais votada considerou uma vitória, na verdade foi um empate, e agora viu-se obrigada a procurar noutro partido a força necessária para governar Riachos.

Não são conhecidos os motivos que terão levado o PS a aceitar o acordo com o GRUPPO. Não se sabe se existem pontos comuns nos respectivos programas, não se sabe se estão de acordo quanto às prioridades, não se sabe qual vai ser o relacionamento institucional entre os seus elementos. Foi um acordo de bastidores. Por exclusão de partes, também não se sabe o motivo pelo qual o PS não fez um acordo "à esquerda", embora se possa perceber que se o fizesse, o GRUPPO dificilmente conseguiria gerir a Junta, uma vez que ficaria em minoria, apesar de ter cantado vitória. Nada disto, portanto, é linear e esclarecedor para a maioria dos riachenses, sobretudo, para aqueles que deslocaram o seu voto de um partido de esquerda para uma lista que, sejamos sensatos, se posiciona à direita. Se a estas questões ideológicas não é dada grande importância a nível local, o que é certo que elas se traduzem em valores, em estilos de liderança, na maneira como o poder se relaciona com as pessoas, e nas prioridades em termos de construção social.

Veremos, portanto, o que dará melhor resultado na prática. Não se pode dizer que o discurso de tomada de posse do presidente da Junta tenha sido entusiasmante ou esclarecedor. Revelou insegurança, centrou-se no currículo pessoal, trouxe ao de cima o habitual e contraproducente conflito de gerações, trouxe ao de cima uma experiência pessoal em contexto de guerra, em contexto de hierarquias rígidas, trouxe de volta um passado que nada tem a ver com o actual contexto que Riachos, enquanto comunidade, enfrenta. Não estamos em guerra, as hierarquias rígidas são estruturas que já não respondem com eficácia à velocidade dos acontecimentos e da informação, para aproximar as diferentes gerações há que dialogar intensamente, sem barreiras, nem preconceitos, até porque são as gerações mais novas que pior estão, que menos perspectivas têm, e que mais afastadas da política estão.

Adivinham-se quatro anos agitados, se tivermos em conta o que aconteceu na tomada de posse que ocorreu na Casa do Povo de Riachos. Veremos se avançamos, se regredimos, ou até se chegamos ao fim do mandato. Nada nos garante que não vá ser mais um trambolhão.

Actualizado em ( Sexta, 25 Outubro 2013 13:03 )  
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