o riachense

Sbado,
12 de Outubro de 2024
Tamanho do Texto
  • Increase font size
  • Default font size
  • Decrease font size

João Luz

Enviar por E-mail Versão para impressão PDF

Descrédito nos partidos

Um estudo de opinião divulgado recentemente pela OCDE revela que menos de 10% dos portugueses confiam nos partidos políticos. É o registo mais baixo do nível de confiança da sociedade na sua classe política. Se colocarmos de lado a relatividade dos números e fizermos contas redondas e simplistas, podemos ligar alguns pontos lógicos. Consideremos as últimas eleições autárquicas como exemplo: apenas 50% dos eleitores exerceram o seu direito de voto; destes, 10% confiam nos partidos, restando 90% de eleitores que votaram mas não acreditam em quem votaram. Por aqui, depreendemos que somente uma parte residual do eleitorado se mostra convicto das suas opções. Ora, isto é intrigante e começa a revelar algo menos óbvio.
Importa ir além da infantilidade de simplesmente não gostar de quem nos trata mal. Isto é um comportamento muito primário em democracia, se bem que a democracia em Portugal seja uma criança, metaforicamente falando.
Democracia pressupõe esclarecimento, pressupõe cidadãos conscientes das suas opções, escolhas, e respectivas consequências. Mas democracia é também um modo de vida, uma profissão, uma carreira movida por interesses particulares daqueles que se propõem representar os eleitores. Democracia implica uma organização social em que a educação, o acesso livre a um ensino livre deve ser um pilar central. Quanto melhor e mais generalizado for o acesso a um ensino dito de qualidade, mais se proporciona esclarecimento, e com isto se elevam os padrões sociais.
Ao fazermos aquelas contas simples, e ao vermos que 90% dos votantes não acreditam em quem votam, isto é verdadeiramente dramático. Aliás, antes das últimas eleições, a frase mais ouvida entre a gente era: “para quê votar noutro, se já sabemos quem vai ganhar?” A um descrédito na classe política, junta-se desnorte, desinformação, e uma exagerada dose de demagogia. Como causa deste estado de alma está não só a acção dos três únicos partidos que têm governado Portugal desde a consolidação democrática, mas também aqueles que não têm conseguido construir ou contribuir para um projecto de governabilidade de um estado social, e com isto refiro-me à facção de esquerda.
A crise existencial dos partidos de esquerda poderá dever-se concretamente à incapacidade que têm revelado em propor um modelo social viável e governável. Não creio que isto se deva à inadequação dos ideais ou dos princípios de esquerda, antes pelo contrário. O problema estará numa mentalidade altamente conservadora que caracteriza a sociedade portuguesa, aliada a um conjunto de valores espirituais, que em conjunto constituem obstáculos sérios a uma sociedade esclarecida, igualitária e sustentável. Isto não é novidade, e tem sido discutido em espaço público.
O que é irónico neste ciclo de democratização que temos vindo a modelar, é que a esquerda iniciou um processo revolucionário mas nunca governou. Como sabemos, o partido que se auto-designa por socialista é apenas uma figura de retórica, tal como o partido que se auto-designa por social-democrata, porque na prática ambos prosseguem linhas de acção à direita, protegendo elites conservadoras e tradicionalistas, o que nada tem a ver com socialismo ou social-democracia. Devido principalmente a estes dois partidos, mais de 90% da população deixou hoje de acreditar em toda a classe política, e isto acaba por incluir aqueles que nunca governaram e que desesperadamente chamam de populismo às formas como os cidadãos expressam o seu desagrado.
Nas últimas eleições autárquicas foi perspicaz, portanto, a estratégia de desviar a atenção dos partidos, renegando filiações e simpatias, e mascarar candidaturas como independentes. Em Riachos resultou. Dos mais de quatro mil eleitores, pouco mais de setecentos elegeram o executivo da freguesia.
Isto é democracia, ou melhor, isto é a democracia que tem vindo a ser construída. Quando a esquerda reclama e culpabiliza os cidadãos de não evitarem este estado de coisas ao não votarem, nem se apercebe que está a dar um tiro no pé, porque afinal se não tem representatividade, isto é, votantes, isso deve-se acima de tudo à sua própria acção e conteúdo do discurso político.
Posso parecer convencional ao balizar esta opinião nos dois pólos ideológicos de referência (a esquerda e a direita), mas se o faço é porque, quer o discurso político, quer o mediático, de uma maneira geral, parecem esbater-se numa amálgama de argumentos e contra-argumentos perfeitamente triviais, sem alcance prático, e que pouco mais fazem do que alimentar uma forma de organização política que não está a dar resposta às grandes questões sociais e aos problemas subjacentes. Vejo, assim, utilidade em rever e esclarecer alguns princípios ideológicos de fundo, sobretudo para que 90% da população portuguesa possa vislumbrar em que tipo de sociedade quer viver, e quais os modelos políticos que podem ser alcançados. Isso, sim, seria um caminho para uma reforma do Estado, e principalmente para recuperar um sentido de cidadania.

Actualizado em ( Quarta, 20 Novembro 2013 17:23 )  
{highslide type="img" height="200" width="300" event="click" class="" captionText="" positions="top, left" display="show" src="http://www.oriachense.pt/images/capa/capa801.jpg"}Click here {/highslide}

Opinião

 

António Mário Lopes dos Santos

Agarrem-me, senão concorro!

 

João Triguinho Lopes

Uma história de Natal

 

Raquel Carrilho

Trumpalhada Total

 

António Mário Lopes dos Santos

Orçamentos, coisas para político ver?
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária