o riachense

Quinta,
25 de Abril de 2024
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Folclore: bailar não é para todos?

Não sei se compreendi bem o que ouvi há tempos, mas o que me pareceu é que a Federação do Folclore Português não concorda com a participação nos Ranchos Folclóricos de pessoas de origem africana, e certamente também asiática ou americana, e provavelmente também nórdica, etc., etc., enfim pessoas que apresentem características físicas tais como tonalidade da pele, textura dos cabelos, formato dos lábios, do nariz ou dos olhos, diferente do aspecto das mesmas características supostamente apresentado pela maioria do povo português, por alturas de finais do século XIX, época a que pertencerão a maioria das danças e cantares recolhidos pelos grupos de folclore hoje existentes.

Mesmo que nas comunidades portuguesas se tivesse continuado até hoje a praticar as danças e os cantares antigos nos momentos de lazer, como outrora era feito, não haveria razão nenhuma para, no século XXI, não se permitir que pessoas oriundas de outras partes do mundo ou suas descendentes integrassem nas comunidades e nas suas práticas culturais, incluindo danças e cantares antigos ou modernos.

O que fazem os grupos de folclore criados no século XX é representar o que os nossos antepassados faziam nos seus momentos de lazer e não representar os tipos físicos existentes na época. Os componentes dos grupos de folclore não são mais nem menos do que artistas que dançam, cantam e tocam cantigas de outras épocas que não a nossa, em momentos de representação em espectáculos diversificados. Os componentes dos grupos de folclore não são nem os nossos antepassados ressuscitados nem a encarnação desses antepassados, são pessoas do nosso tempo, na sua maioria jovens que, integrados nas comunidades onde vivem, se dedicam a actividades culturais de que gostam, tais como a dança. Os grupos de folclore têm aliás o grande mérito de durante décadas permitirem a prática da dança em localidades com muito pouca ou nenhuma oferta cultural. Se hoje a população portuguesa é na sua composição diferente da sociedade portuguesa de outros tempos, tendência aliás, europeia, não se podem discriminar as pessoas pelas suas características físicas, sejam elas quais forem, alegando que antigamente não havia pessoas assim na sociedade portuguesa, o que nem corresponde à verdade, como ensinam os livros de História. 

Se a Federação mantém o preconceito, pretendendo afastar dos grupos de folclore quem não encaixa no perfil físico por si desenhado, então o melhor é fechar as portas. Se à Federação interessa mais manter museus em movimento do que formar, animar, alegrar, integrar pessoas, então deve deixar às pessoas a liberdade de se organizarem. As comunidades saberão resolver melhor a integração dos seus elementos nas suas actividades culturais, que servem também para isso mesmo, integrar.

Não compreendeu ainda a Federação do Folclore Português, que sem uma renovação significativa assente em modelos contemporâneos que passam por um olhar diferente sobre os ranchos folclóricos, os grupos de folclore tenderão a desaparecer nos seus formatos anacrónicas.

Preservemos a cultura mas também, e especialmente, a identidade de cada ser humano, que passa pelo riquíssimo património que é o belo leque de tonalidades da cor da pele que a humanidade felizmente ainda apresenta, apesar de algumas investidas “hitlerianas”, de pretensão de apuramento de raças que nunca existiram. 

Já vai sendo tempo de todos pensarmos a humanidade como uma coisa una constituída por indivíduos todos diferentes uns dos outros, e por isso mesmo “todos diferentes e todos iguais”. Muitos de nós aprendemos isto, felizmente, há muitos anos, nos muitos festivais de folclore em que participámos.


Actualizado em ( Quarta, 19 Fevereiro 2014 13:41 )  
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