Foi há 40 anos
FARPADAS
Foi há 40 anos que um grupo de militares portugueses, imediatamente apoiados pela maioria do povo, resolveu mudar as condições de vida em Portugal.
Começou por mudar o governo, fechou as prisões políticas, acabou com a guerra colonial - que durava já há 13 anos, e foi criando as condições de liberdade necessárias para a transformação de um regime de ditadura numa democracia. Os políticos passaram a organizar-se livremente, os trabalhadores e os patrões também. Com a independência, muitos portugueses voltaram das ex-colónias e muitos emigrantes regressaram a Portugal. Foram 18 meses em que tudo parecia possível, 18 meses de grande esperança, esperança que foi acabando a partir do25 de Novembro de 1975. Depois dessa data, a democracia ficou limitada aos partidos políticos e ao voto. Mas, apesar das dificuldades, a democracia manteve-se nestes 40 anos. Nunca a história de Portugal tinha registado 40 anos seguidos de vida em liberdade, em democracia. A democracia em Portugal ainda está no começo, mas só é possível progredir se começarmos.
Os últimos anos foram anos de grande retrocesso: - há muitas mais mortes do que nascimentos, há muitos mais emigrantes do que imigrantes, há cada vez menos pessoas a trabalhar. Há cada vez mais famílias sem casa. Fecham fábricas, fecham farmácias, fecham hospitais, fecham escolas. No verão, por falta de manutenção, o país arde todos os anos. Apesar de cada vez haver mais pessoas sem trabalho. A diferença entre ricos e pobres é cada vez maior. A fuga de capitais e a fuga aos impostos continuam imparáveis. Dizendo que estão a pagar a dívida, cada vez a fazem maior. Até o voto – que é o mínimo de democracia – tem mais abstenções do que votantes…
Comemorar o 25 de Abril de 1974 é fazer tudo para que a esperança que tínhamos nessa altura regresse ainda mais forte. É fazer tudo para que a construção da democracia regresse à nação portuguesa. É fazer tudo para que todas as pessoas participem na construção de uma sociedade melhor.
Comemorar os 40 anos de democracia é criar condições para que todos aqueles que querem trabalhar não precisem de subsídio de desemprego. É criar condições para que todos possam habitar numa casa decente. Só assim pode aumentar o número de famílias e de crianças: as pessoas terem trabalho e uma casa onde viver.
A criação de postos de trabalho não pode estar dependente do crescimento económico. É o aumento do número de trabalhadores e o aumento de investimento que cria crescimento económico e não o contrário. Quando há crescimento económico, em boa verdade, quase não é preciso governo. É em tempos de crise que os governantes se revelam bons ou maus.
Comemorar os 40 anos da revolução dos cravos é reformar a sociedade portuguesa, começando por reformar os partidos políticos. Nestes 40 anos os partidos parecem clubes de futebol. Foram afastando as pessoas capazes de apresentar e de discutir ideias, projectos e propostas, e ficaram como clubes de lambe botas. Fazer política não é fazer uma carreira para enriquecer, é trabalhar pelo bem comum, por uma sociedade melhor, onde as pessoas nasçam iguais em direitos e em obrigações.
Comemorar o 25 de Abril é criar condições para que a qualidade seja mais importante do que a quantidade. É fazer com que sejam julgados todos os que roubaram e todos os corruptos.
As festas que se vão fazer com o nosso dinheiro, só não aumentam o roubo e a corrupção se servirem para mudar as políticas que quase acabaram com a esperança de um povo constituído por pessoas trabalhadoras, como é prova os milhares de emigrantes que todos os meses saem de Portugal e encontram trabalho noutros países. Encontram trabalho porque, fora de Portugal, todos sabem que as portuguesas e os portugueses constituem um povo de pessoas trabalhadoras, que querem viver do trabalho e não dos subsídios.