o riachense

Sexta,
19 de Abril de 2024
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Manuel Ferreira

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Gente de guelra 

A situação económica na Europa continua a fazer vítimas, e o descontentamento é grande. A França e a outros países continuam a chegar muitos portugueses, em busca de uma vida melhor: são a preocupação das poucas e parcas organizações de benemerência que tentam dar-lhes (algum) apoio.

Desde que chegam e quando o encontram, agarram-se a tudo o que é trabalho, esquecendo por vezes a profissão mais agradável que exerciam em Portugal, para começarem o seu percurso. São apreciados e alguns deles conseguem mesmo fundar a sua empresa, pequena ou grande. Conheci mesmo um analfabeto que o fez. Que ousadia! E que poder de decisão!

Aqui em Riachos temos o «Chico Caniço», que tem e dirige uma empresa de ambulâncias em França e que já deu uma aos Bombeiros de Torres Novas, há anos. 

Na Suíça temos o Carlos Mota que, quando o Movimento dos Trabalhadores Riachenses em França (MTRF) estava activo, nos recebeu e arranjou cama e mesa para todos, quando fizemos uma excursão a Lausane e a Genebra. Esse tem um bom restaurante, muito frequentado por gente que gosta das boas iguarias e tem meios para as pagar. 

 O Paulo Madeira, Riachense de gema, filho da senhora mais conhecida por «Maria do Peixe», chegou a França com a profissão de carpinteiro. Trabalhou muito por conta de outrem. Com o tempo aprendeu a língua, conheceu os franceses e foi sonhando. Daí saíram pelo menos duas empresas (uma das quais a EGM Morgado), que funcionam bem. Podemos ver no Facebook, algumas das suas realizações, obras que nos deixam admirativos. E com amor à terra! A Sociedade Civil Imobiliária (SCI) que engloba os imóveis, chama-se SCI Riachos, o que leva os franceses a perguntarem o que significa Riachos. 

Nestas tarefas, é secundado eficazmente por sua esposa, a Ana, que assegura o secretariado e, sem conhecer a profissão, é capaz de fazer orçamentos, na ausência do marido, que os clientes aprovam e que o Paulo executa com os seus empregados. É agradável ver um casal que se completa.

Hoje já têm um património confortável, que não chegou por acaso. O Paulo nunca se recusou a trabalhar a noite e dias inteiros, se as circunstâncias o exigissem, pois aqui, os prazos de acabamento das obras têm de ser respeitados.

Sendo portugueses, não se esquecem de dar trabalho às empresas existentes em Portugal, às quais encomendam materiais bons e mais em conta do que aqui em França.

O Paulo e a esposa compraram os locais de uma antiga farmácia no prédio onde moram, só para exporem o que de bom se faz em Portugal, no que diz respeito a mobiliário: mostras de cozinhas, portas inox, cadeiras de várias formas, etc., só para fazerem um mostruário para os clientes que os consultam. Há por vezes pessoas que não conhecem e tocam à campainha. Recebem a resposta de que o que está exposto não é para venda livre, mas sim o catálogo - digamos assim - para as empresas que os vêm consultar.   

É certo que eles também não se esquecem dos amigos.

Quando cheguei à terra onde vivo, desconhecia que havia numa outra igreja uma comunidade portuguesa que, desde que soube da sua existência, sempre ajudei quanto pude e quando me pediram, mesmo agora na Festa da Senhora de Fátima. Antes disso, integrado já na paróquia (de língua francesa) onde vivo, que é dirigida por padres salesianos e composta por pessoas de todos os continentes excepto da Oceânia. Como foi a primeira , decidi nunca a abandonar.

O grupo tamul, originário da Índia, quis fazer a Festa com procissão de Nossa Senhora de Velankany, venerada nesse país. Há uns sete anos, o pároco pediu-me para que Nossa Senhora de Fátima fizesse parte da procissão. O andor que servia na comunidade portuguesa era enorme e muito pesado. Bem tentei sensibilizar os da profissão para que me fizessem um mais pequeno, mas todos «fizeram ouvidos de mercador».

Já estava disposto a pagar um a quem o vendesse ou mo fizesse. O Rogério Vieira lembrou-se do Paulo Madeira e lá fomos. Tivemos jantar e a seguir começou a fazê-lo. No dia seguinte à noite, hora a que os clientes podem ser contactados e com encontros marcados, o Paulo acabou o andor e ainda foi vê-los. O trabalho não espera, é a regra desta gente!

 Perguntei quanto lhe devia. Disse-me que eu estava doido, ele que tinha roubado tempo ao trabalho, à família e fornecido todo o material necessário. Fiquei impressionado, pois o Paulo não se engasga com o fumo da cera. Concluí que Nossa Senhora às vezes mostra o valor dos que escolhem não ir à Igreja. Ou serão reminiscências da juventude? Eu fiquei-lhe muito grato! Houve procissão com as duas imagens!

A Andreia que fez o curso de Gestão de Empresas e já trabalha fora, tem sorte em ter uns pais assim!

Com as mesmas mãos, a mesma inteligência, a mesma vontade, esta gente, se tivesse ficado em Portugal, conseguiria fazer o que faz aqui? Não sei qual a vossa resposta, mas deixo a pergunta.

 

Actualizado em ( Sexta, 06 Junho 2014 14:29 )  
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