o riachense

Sexta,
19 de Abril de 2024
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Tauromaquia tem novo regulamento

 

Há muito que não me dedicava a fazer uns escritos para este jornal. A pedido do sr. Director, o mesmo propôs-me o desafio de opinar sobre o novo regulamento tauromáquico que foi publicado a semana passada em Diário da República. 

Como creio que uma boa parte dos leitores d’O Riachense são aficionados aos touros e a história da tauromaquia escreve-se também com o nome de Riachos com o grupo de forcados, empresários, apoderados, bandarilheiros, cavaleiros e, mais recentemente, um matador de touros. Por tudo isto, justifica-se que algo se escreva sobre tauromaquia nestas páginas e, por isso, aqui vai a minha apreciação.

Quem estava mais por dentro dos assuntos da tauromaquia, há muito que vinha dizendo que os problemas da festa (como na gíria se trata a corrida de touros) estavam no regulamento desactualizado e que era imperioso um novo. Pois bem, foi agora publicado o novo regulamento que entra em vigor lá para 10 de Agosto. Ou seja, mais ou menos a meio da época. Se se tratasse de um campeonato de futebol era o mesmo que mudar as regras a meio da competição. Enfim, é mais uma demonstração do desvario legislativo deste Governo, que nunca mais nos vemos livres dele, mas isso, são contas para outro rosário.

Se alguém pensa que com este regulamento vamos ter melhor qualidade nas corridas de touros com melhor organização, melhores toureiros e melhores touros, desengane-se que também não é por este caminho.

Há alguns aspectos que são interessantes: é reconhecido que a tauromaquia é parte integrante do património da cultura popular portuguesa e o número significativo de espectadores deste tipo de espectáculos. De resto, o regulamento é muito pormenorizado, nalguns casos sem qualquer sentido. Tantas são as exigências, definições, restrições, que dificilmente uma organização consegue levar a cabo uma corrida de touros sem se sujeitar a coimas que são aplicadas por tudo e por nada.

Relevo como muito interessante os ferros (bandarilhas) que a partir de Agosto têm de ser feitas com material quebrável, o que reduz o risco de acidentes com os forcados. Já vários perderam a vista ou sofreram outras contusões com farpas espetadas no corpo. Neste campo da segurança, são ainda proibidos os estribos das praças em alvenaria. Todos têm de ser feitos em madeira ou forrados a madeira ou material equivalente, havendo um ano para adaptação das praças. As condições de assistência médica aos intervenientes são também reforçadas tal como a obrigatoriedade da existência de seguros.

Por outro lado, o novo regulamento impõe melhores condições para os touros no maneio e permanência nas praças. É mais um passo para a dignificação e bem-estar animal. Já hoje todas as praças fixas têm curros onde os animais podem permanecer e alimentar-se livremente. Mas as praças móveis, regra geral não têm curros ou, se os têm, não são montados. Há o prazo de dois anos para adaptação destas condições pois, passa a ser proibido a permanência dos animais nas jaulas de transporte. Nós, aficionados, respeitamos os animais e gostamos de os tratar com a dignidade e as melhores condições possíveis. Para além disso, eram frequentes lesões quer à entrada ou à saída da praça, para além de não ser bonito o arraste dos touros à corda de volta ao camião. Pelo que, custe o que custar, a exigência de curros também nas praças desmontáveis é uma mais-valia para a dignidade do espectáculo.

 Nas praças fixas o abate dos touros passa a ser feito por veterinário nos curros ou se se destinarem à cadeia alimentar, a própria praça tem de ter matadouro ou, então, serem encaminhados para um matadouro, havendo um prazo de cinco horas até ao abate. Não conheço os contornos do abate de animais mas prevejo grandes complicações e o aumento dos custos do “aluguer” dos animais quando não podem ser rentabilizados com a carne para consumo e suponho que nem todos os matadouros funcionarão 24 horas por dia.

É claro que todas estas novas exigências têm custos que virão a reflectir-se nos orçamentos das corridas e, por conseguinte, nos preços dos bilhetes. Contrariamente ao que dizem os anti-taurinos, este espectáculo não é subsidiado. Tudo é pago com o dinheiro da assistência ou dos patrocínios de empresas e não havendo uma coisa nem outra, fica o empresário com o prejuízo às costas.

Não vejo grandes dificuldades nas praças fixas, a menos que façam reestruturações profundas, caso em que será obrigatório a construção de um matadouro. Prevejo sim, dificuldades acrescidas para as praças desmontáveis. Sabemos os custos, o trabalho e a complicação que é montar uma corrida nestas praças. A maior parte delas que por aí andam para aluguer já são o refugo de praças que não cumprem os requisitos em Espanha. Dentro de dois anos, esses empresários estarão a braços com a sua reestruturação. E se hoje são necessários dois camiões para o transporte, depois passam a ser três. A montagem e desmontagem passa a ser bastante mais complicada, enfim, trabalho e custos serão muito superiores. Numa futura Festa da Bênção do Gado, se a organização quiser manter a tradição das corridas de touros, estará no limiar de ter de cumprir já com os novos requisitos.

Não conheço outro espectáculo tão regulamentado e tão complexo de organizar como é a corrida de touros. O novo regulamento vem adicionar mais umas quantas dificuldades e, certamente, encarecer o espectáculo. Salvem-se os princípios da segurança e do bem-estar animal. Posto isto, há que questionar: contribuirá este regulamento para dar futuro à tauromaquia ou será mais um engulho entre tantos outros que a festa tem tido? 

A festa dos touros está tão arreigada no povo que dificilmente deixará de aparecer nas bancadas das praças apesar de muitas vezes defraudado. Têm sido os próprios agentes tauromáquicos que têm dado cabo deste espectáculo. São os ganadeiros que criam touros à medida das inabilidades e fragilidades dos toureiros, são os empresários à procura do lucro fácil, são os toureiros a quererem ser figuras sem esforço, sem dedicação, sem risco. São uma quantidade de agentes paralelos chupistas de toda esta organização. São umas quantas associações com práticas diferentes dos propósitos para que foram criadas. Associações como a ANGF que supostamente devia defender os grupos de forcados mas que depois tem normas que dificultam a livre associação e impedem que grupos associados compartilhem cartel com grupos não associados. É por isso que grupos como os de Riachos não conseguem pegar em determinadas corridas.

Os exemplos sucedem-se com as associações de classe, entre as quais, a mais absurda é a APET, associação de empresários, que não se sabe para que serve mas quem quiser montar uma corrida tem de ser associado e pagar uma quota. São empresários que vetam toureiros, toureiros que não lidam determinados touros, ganadeiros que não vendem touros para determinados toureiros lidarem, enfim, é uma “tropa” e um mundo complicado. No entanto, vão-se fazendo umas corridas que vão alimentando tudo isto sem mostras de quebrar. Mas a seriedade do espectáculo está irremediavelmente comprometida. Sobre tudo isto, o Regulamento nada dispõe nem deve dispor. Portanto, a chave da nossa tauromaquia não é o regulamento mas a seriedade em todas as suas vertentes que se dá ao espectáculo. Quando, ocasionalmente, se dá o encontro entre um bom toureiro com um touro bravo e nobre, então aí, o espectáculo é lindo. São esses pequenos momentos que me conservam aficionado. Muito mais havia por dizer mas a prédica já vai longa, fica para outra ocasião.  

Actualizado em ( Quinta, 19 Junho 2014 15:34 )  
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