1:5 ou 5:1?
Muitos já ouviram contar que houve tempos difíceis em que uma sardinha dava para cinco. Actualmente já é habitual (quando se gosta) cada um comer cinco. Muita coisa mudou no país (e no mundo) nos últimos quarenta anos e a alimentação é uma delas. No que diz respeito à variedade mas também em relação às quantidades. Não há fome que não dê em fartura. Tentando compensar e esquecer aqueles que foram tempos de efectiva fome, hoje em dia é sinal de ultrapassagem desses tempos comer bem! E comer bem, neste caso, quer dizer comer muito. É óbvio que cada um será responsável pela gestão do seu orçamento, pelo que não é a questão financeira o que quero aqui destacar mas sim a ironia, a afronta e a pouca sustentabilidade desta nossa cultura alimentar (e contra mim falo).
Não será irónico comer sem pudor perante uma mesa farta (fartíssima) e depois procurar ajuda em kompensan, rennies, alka-sezer, comprimidos para a diabetes, hipertensão e excesso de peso entre outras consequências? Não se sentirão ofendidos, afrontados, os habitantes de outros pontos do globo com este comportamento? O que pensarão, quando mal conseguem arranjar alimentos para si e para os seus filhos, de nós que comemos demais e depois pedimos ajuda a médicos e farmacêuticos para emagrecer? Como naquela anedota em que dois etíopes estão à conversa e um diz para o outro –“Ei amigo, sabias que lá no Norte há mulheres que pagam para serem magras?”.
E como devem calcular não é sustentável. E se todos no planeta comessem como nós ocidentais? Não havia planeta suficiente para cultivar tantos alimentos! E não haverá no curto prazo, se continuarmos a encarar a alimentação desta forma. Calculemos então… se há uns anos uma sardinha dava para cinco e hoje em dia cada um come cinco sardinhas quer isto dizer que cada um de nós come o mesmo que vinte e cinco pessoas comiam há quarenta ou cinquenta anos atrás! Afinal sempre é um artigo com alguma matemática…