o riachense

Sexta,
19 de Abril de 2024
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O que faz, aos 25 anos, o museu comunitário de Riachos?

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Os artesãos partilham conhecimentos todos os dias. O museu é uma escola de aprendizagem ao longo da vida

Corria o ano de 1997 quando José Luís Pestana foi colocado pela Direcção Regional de Educação no museu de Riachos para dar aulas de trabalhos manuais a turmas da escola primária e preparatória (as oficinas pedagógicas para crianças já tinham sido iniciadas em 1993, com o professor José Russo). Especialista em madeiras e metais, desenvolveu os trabalhos de reprodução de objectos do museu, como as célebres chavelhas ou as cangas miniatura (e até uma ou outra em tamanho real). Relembra hoje vários episódios de trabalhos com alunos que estavam pouco habituados à disciplina a que a aprendizagem de um ofício obriga.
 
Eram os “corrécios” que lhe iam parar às mãos, “índios”, como lhes chama. Não foi fácil, mas relembra esses tempos com uma simples afirmação: “foi a melhor experiência da minha vida profissional”. Houve, entre tantos outros casos, o aluno que passou dias a produzir uma pequena canga. Ficou perfeita. Levou-a orgulhoso para a escola e, logo à entrada, o porteiro ficou-lhe com a canga e levou-o para o Conselho Directivo. Fartou-se de chorar a dizer que aquela peça de artesanato era sua, que tinha sido ele a fazê-la. Teve de ser o professor a ir lá comprovar que, sim senhor, foi o miúdo que a fez. Outros fizeram gaiolas de madeira e arame, como eram as antigas, algumas ficaram nas oficinas do museu e lá permanecem a adornar as paredes da oficina.
 
É verdade que, com o avançar dos anos, o espólio do mundo rural do museu ganha cada vez mais valor, pois ensina a sociedade actual sobre uma realidade que já não existe. Tem objectos de grande valor representativo e identitário. Mas hoje, são as oficinas de adultos o principal aspecto definidor da instituição enquanto museu comunitário de Riachos.

“Museoterapia”
Passado o ano 2000, o professor reformou-se e nunca mais largou o museu. Melhoraram-se as oficinas e, desde então, aos vários artesãos que já lá iam - alguns dos quais ligados à própria instalação do museu e às alterações que ele foi sofrendo – juntaram-se muitos mais. Toino Sedas, Zé Mendes, Zé Figueiredo, Feliciano Dias, Manel Mendes, Manel Graça, João Pedreiro, Chico da Clara, João Fernandes, o Fanha, Manuel Pé Leve, Zé Gonho, Adosindo, Manel Zé, são os nomes que por lá passaram, incluindo alguns “residentes”, que é como quem diz, os que estão lá todos os dias.
Mafalda Luz, a directora adjunta, refere-se ao pessoal das oficinas como “a família”. Se for preciso até fazem visitas guiada, diz. E “se passa três ou quatro dias sem o senhor Zé cá vir, tenho que ir à procura dele, para ver o que é que se passa”.
 
Esta ocupação dá qualidade de vida a estes homens, a maioria já fora da vida activa. O Zé Mendes, antigo boieiro, diz-nos que está melhor no museu a trabalhar nas oficinas do que no café o dia todo. Trabalha, cria, convive com os amigos e com os visitantes do museu (só neste verão foram mais de dois mil), colabora com a instituição (na oficina também fazem o restauro das peças da colecção) e, no fim, “vou ali à Columbófila com o Feliciano, comemos um petisco e bebemos um copo de vinho e vamos para casa”. São os chamados ‘anos de ouro’.
 
“Museoterapia” chama o director do museu, Luís Mota, ao trabalho que se faz hoje naquele antigo lagar. Os dotes pedagógicos do professor Pestana são enaltecidos pelos “habitantes” do museu como aspecto fulcral para o desenvolvimento das actividades, mas outra particularidade é que todos chegaram com muitos conhecimentos; “são formados e formam”, diz José Manuel Martins.
 
No dia em que O RIACHENSE lá foi, na semana passada, o Zé Mendes estava com o Feliciano Dias a armar uma canga pequena. “Quando para aqui vim não imaginava como é que isto se fazia, eu não percebia nada de cabedais”, diz o professor, a olhar para o que agora ele próprio aprendeu.

Centro de educação informal
Mesmo dentro do amplo espectro da Nova Museologia, o Museu Agrícola de Riachos tem vários aspectos “não-clássicos”, nota José Manuel Martins, o riachense que estudou o museu da sua terra para uma tese de mestrado denominada “Educação de adultos e desenvolvimento local no contexto da Nova Museologia: o caso do MAR”.
 
A existência de uma galeria de arte num museu comunitário é um deles. Outro, é a dinâmica que as oficinas dão quotidianamente ao museu. Lá dentro há sempre vida nas oficinas e qualquer pessoa pode, em qualquer dia, entrar e perguntar aos artesãos como é que se faz qualquer coisa, como é que se arranja qualquer coisa. Pode aprender a ‘carpintar’ um objecto, pode até, eventualmente, passar a fazer parte da equipa permanente de artesãos.
 
“Alguns vão para ali passar o tempo, outros para fazer peças. Mas todos eles gostam muito do museu”, diz o investigador que passou um mês a aprender nas oficinas, pelo método da observação participante.
 
Esta formação de adultos faz-se pela aprendizagem empírica, do “passa-palavra”. É uma educação informal, uma escola de aprendizagem ao longo da vida, que mais nenhum museu oferece. A constatação de que este museu é único já não é nova e é esse estatuto que contribui indirectamente para o desenvolvimento local. Martins chegou lá no seu estudo por exclusão de partes: tirando todos os que são municipais, todos os que cobram bilhetes aos visitantes e participantes, e todos os que só abrem às vezes, sobram muito poucos. Ou seja, é a “orgânica e a estrutura funcional” do museu que lhe dão a presença que tem em Riachos, na região e no país.

Festa de anos no dia 11 
Os 25 anos ficaram completos no passado dia 30 de Setembro, precisamente no dia em que a Assembleia de Freguesia de Riachos decidiu reunir no auditório do Museu. Foi aprovado por unanimidade um voto de louvor à instituição e proferidas palavras de regozijo pelos representantes das diversas bancadas partidárias.
 
A festa está marcada para dia 11 de Outubro, às 15h30. Estão programadas actividades com os grupos do museu, designadamente o NAR, as Camponesas, os Boieiros e as oficinas pedagógicas. Está ainda a ser programada uma exposição de postais antigos sobre o boi de trabalho. O Museu continua.
 
Actualizado em ( Quarta, 15 Outubro 2014 16:47 )  
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