o riachense

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29 de Março de 2024
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António Mário Lopes dos Santos

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Esta farsa eleitoral com que nos enganam

Para quem, como eu, nas praticamente por cumprir três semanas das eleições, já tem o voto decidido, pouco lhe interessam os debates televisivos. Primeiro, porque são discriminatórios. Segundo, porque são falsos. Terceiro, porque tem pouco a ver com o país real. Quarto, porque a divulgação nos média não é democrática, deixando de lado grande parte das candidaturas que vão aparecer, ao eleitor, no boletim de voto.

A decisão de apenas se realizarem debates com os partidos com assento na Assembleia da República é uma aposta no mais de tudo o mesmo. E, mesmo assim, desigual, visto que o único debate em simultâneo nos três canais generalistas, o de Passos Coelho-António Costa, escondendo os restantes nos canais informativos do Cabo, demonstra a qualquer elemento que não seja cego, surdo e mudo, uma manipulação eleitoral a favor dum dualismo considerado capaz de governar: dum lado, o liberalismo conservador e defensor da privatização de tudo o que seja país, representado pelo coligação PSD/CDS; do outro, um partido social-democrata incapaz de se autodefinir como uma alternativa à esquerda, amarrado aos tratados europeus de austeridade, que é o Partido Socialista.

 Os outros partidos, à direita e à esquerda dos citados, com mais ou menos capacidade interventiva, são colocados, alguns, entre aspas: o PCP e o Bloco de Esquerda, como simples partidos de protesto, porque as alternativas que apresentam são incompatíveis com a actual governança da Europa, cada voto que receberem prejudicando o conluio antecipado que, para Bruxelas e para a Alemanha, será aceite - um governo dum daqueles três , respeitados, adulados, donde saem, ganhe o que ganhar, para os irmãos, primos, tios, sobrinhas, outros familiares dos eleitos, cargos de nomeação em tudo quanto for governo, banca, fundações, administrações públicas e privadas,  sociedades de investimento ou de advogados.

Não é por acaso que Passos Coelho leva sempre consigo, nas suas deslocações, um pelotão de seguranças e uma colmeia de jornalistas da rádio e da TV, emprestando alguns a Paulo Portas, que, das feiras, passou aos discursos com pose do grande reformista do Estado, do irreversível defensor dos reformados com a cruzinha da sopa dos pobres como paradigma do cristianismo social dos descontos do trabalho superando sempre os dos seus privados compagnons de route, alguns que chegavam inicialmente  de mota, mas depressa a colocaram na cave dos seus moradias. 

Do outro lado, se António Costa é tratado como um Humberto Delgado em confronto com Américo Tomás (Salazar a mexer os cordelinhos), os entrevistadores pedem-lhe, mostre lá as diferenças, mas não se esqueça que a Merkel é que manda e está com a direita. E as diferenças são tão dúbias e tão pouco alternativas que, a cada cavadela, vem logo à memória que, desde o 25 de Abril, e principalmente do 11 de Março, o PS foi articulando a sua posição ideológica, forjada quantas vezes no Tavares Rico, cada vez mais ao lado do liberalismo e muita distanciada dos teóricos da social-democracia. António Costa, no seu debate com Catarina Martins, demonstrou-o à saciedade, nas suas propostas sobre as reformas, propondo a congelação, quando os preços dos bens essenciais, luz, água, electricidade, comunicações, gasóleo e gasolina não param de subir, ao abrigo, não dos interesses da Pátria, mas dos dos empresários angolanos, brasileiros, e chineses e outros, que dominam, de forma monopolista, após as privatizações, as empresas estatais, que PSD, CDS e PS têm privado paulatinamente. Ao piscar o olho ao voto da esquerda - o voto útil -, não toca num único cabelo da alta finança e no esbulho das finanças nacionais, com as sedes de muitas empresas instaladas noutros países, fugindo sistematicamente ao fisco.

Já os candidatos dos restantes dos partidos, expulsos como Adão e Eva do Éden dos debates eleitorais, só podem contar com os porta a porta de toques de campainha, colagem de cartazes, distribuição nas caixas do correio, batidas em feiras e mercados, arruadas nas cidades capital de distrito, sem qualquer microfone, máquina de filmar, jornalista, a gravar e filmar a sua existência.

É esta a realidade do país pré-eleitoral até o momento, e que se agravará selectivamente até à exaustão durante estas três semanas de profunda fraude democrática, com a bênção dos poderes legislativo, executivo, judicial.

De facto, reconheço razão a Paulo Portas na definição de Portugal como um protectorado, onde nenhuma lei, nenhuma eleição, nenhuma magistratura, corresponde aos interesses e escolha soberana do povo desse país. Onde um acto eleitoral, como se articula, não passa duma farsa, sem o mínimo de igualdade de meios de divulgação e verbas dotadas para todas as candidaturas. 

O país está a ser conduzido como um rebanho, para uma eleição bipolar - PSD/CDS ou PS. 

Não se está a escolher um primeiro-ministro, mas uma Assembleia da República. E, prevê-se que, mesmo com todas as manipulações de consciência, nenhum dessas duas forças tenha maioria absoluta. 

É essa a questão que se esconde dos eleitores. Ambas necessitam de ir, se a vitória lhes pertencer, buscar alianças pós eleitorais. Ambas escondem as suas intenções, mas o seu medo reconhece-se no ruído cada vez maior que os média fazem à sua volta, com exclusão e omissão dos restantes candidatos.

O meu voto, decididamente de esquerda, não paira em mundos que só conduzem à fuga de capitais e às privatizações, transformando este país em algo como um campo de refugiados sob a guarda feroz das suas elites parasitárias. A minha derrota eleitoral a 4 de Outubro será também a vitória dos que, ao longo dos séculos, foram empurrando o muro das diferenças dos direitos e deveres sociais. Com a consciência de que, sendo Europa, esta terá inevitavelmente de mudar, senão desagrega-se. 

17 de Setembro de 2015
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António Mário escreve sempre às quintas-feiras em www.oriachense.pt

Actualizado em ( Quinta, 17 Setembro 2015 13:59 )  
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