José Júlio Ferreira, presidente da Junta de Freguesia de Riachos, completou um ano de mandato, após as eleições intercalares para a autarquia, motivadas pela demissão de Alexandre Simas e restantes elementos da sua lista. Após o impasse em que a Freguesia se viu mergulhada, impõe-se agora esta entrevista, auscultando José Júlio, eleito como cabeça de lista do PS, sobre como tem decorrido este ano de mandato, mas também o que nos reserva para o futuro próximo da Freguesia.
João Triguinho Lopes
Completado um ano de mandato, qual é o balanço que o presidente da Junta faz deste exercício?
Positivo. Conseguimos avançar com alguns melhoramentos que se tornavam necessários, como por exemplo na Casa do Povo com o arranjo do telhado, substituição dos quadros elétricos e arranjos nos balneários; reforço do muro do cemitério, pintura e outros arranjos; embelezamentos e manutenção das rotundas e outros espaços verdes; melhorias em abrigos de passageiros; passeio da rotunda Senhor Jesus dos Lavradores até à rotunda Fernando Cunha; apoio efectivo à Festa da Bênção do Gado e às colectividades, apoio social e outras pequenas coisas, mas de utilidade, como as escadinhas de ligação da Avenida dos Boieiros à Rua do Casal Cerrado; limpeza de árvores, ribeiros, arranjo de valetas e outros espaços. Vimos também ser alcatroada a estrada para o Boquilobo, enfim, não conseguimos enumerar tudo, mas dá para ver que não estivemos parados.
Um dos motivos que originaram a demissão do anterior presidente, foi a questão do protocolo com a Câmara e a transferência de verbas que lhe estavam associadas para a Freguesia de Riachos. No que é que se traduziu a renegociação desse protocolo? Alterou alguma coisa em benefício de Riachos?
Salvo erro, antes deste Executivo entrar a verba em discussão era de cerca de 18 mil euros. Conseguimos em dois meses fechar a negociação com pouco mais de 34 mil euros. Sabíamos que a Câmara não ia abrir excepção naquilo que já tinha negociado com as outras Juntas, daí termos de ceder nalguns pontos e reavaliar algumas situações e foi isso que fizemos. Chegamos a este valor que nos pareceu, apesar de insuficiente, consensual na Assembleia de Freguesia e estava acima da linha que tínhamos traçado, por isso fizemos o acordo. O benefício que trouxe está expresso essencialmente em duas vertentes: conseguimos ter os espaços verdes mais apresentáveis, se bem que alguns ainda não estejam em recuperação, e melhorou a resposta nas pequenas reparações necessárias ao bem-estar do funcionamento do Centro Escolar de Riachos e desatou um nó que havia no relacionamento Junta/Câmara que não era benéfico para ninguém.
Há uns meses, a propósito da realização das Festas da Bênção do Gado, o presidente referiu-nos que as obras de requalificação do Largo Manuel Simões Serôdio, por uma questão de oportunidade de agenda, seriam realizadas mais para o final do ano. Dezembro está à porta e não se vê qualquer movimentação. Vamos ter o Largo remodelado ou não?
Essa foi uma promessa eleitoral e a única que falta cumprir e não me passa pela cabeça que assim não aconteça. A última informação que tenho é que foi necessário fazer um novo levantamento topográfico e ajustar o projecto e que está para muito breve tudo preparado pelos serviços da Câmara para fazer o ajuste directo para entrega da obra.
Estamos numa altura de votação dos projectos do Orçamento Participativo. A título pessoal, o José Júlio defende um projecto que é o parque de merendas Zé da Leonor. Porque é que defende este projecto?
Eu, tal como fiz no ano anterior, apresentei uma proposta, para dar seguimento a um desejo do anterior executivo do Alexandre Simas e do qual eu fiz parte, de não deixar morrer e de embelezar aquele espaço junto ao rio que foi cedido à Junta pelos herdeiros do Sr. Zé da Leonor. Como me parece dinheiro bem gasto e útil para Riachos, para as freguesias limítrofes, para a ecologia, para o lazer e convívio, e o orçamento participativo pode ser uma boa oportunidade para o concretizar se os eleitores quiserem, fiz essa proposta, até para dar seguimento ao trabalho que já iniciamos de limpeza do espaço e de acesso ao rio.
Enquanto presidente de Junta, qual é o comentário que faz aos restantes projectos do Orçamento Participativo que estão a escrutínio? Revê-se nalguns desses projectos que, embora possam não ser aprovados, venham a ter alguma possibilidade de concretização num programa de investimentos da própria Junta de Freguesia?
Enquanto presidente da Junta não me parece bem estar a fazer comentários, nesta altura, às outras propostas em votação. Apenas ressalvo uma – do parque 25 de Abril - cujo valor não chega aos 4.000€, e que se for a mais votada é um desperdício de recursos, pois como sabemos o valor atribuído à Freguesia é de cerca de 19000€. Já agora, aproveito para apelar ao voto, podem-no fazer no site do Município ou no próximo dia 29 das 13 às 19h na Sociedade Filarmónica.
A nossa freguesia tem sido particularmente afectada com diversas fontes de poluição. O caso mais recente e mais falado, tem sido o da Ribeira da Boa Água. Toda esta poluição tem como destino o rio Almonda, afectando inclusive a Reserva do Paul do Boquilobo. Qual tem sido o papel da Junta para a resolução destes problemas?
Temos pressionado, apoiado as movimentações dos cidadãos e estando ao lado deles e apresentando sugestões. Ainda em meados de Agosto enviamos à comissão de acompanhamento eleita em Assembleia Municipal sugestões de trabalho onde se incluía a limpeza da ribeira da Boa Água, que agora se iniciou. Agora, temos consciência das limitações legais, ou melhor da autonomia da Câmara para resolver este crime ambiental. Lamento é que o Ministério do Ambiente não seja mais rapidamente actuante neste processo, face à gravidade do mesmo, e que as leis estejam feitas para proteger os poderosos. Uma palavra para o Mário Costa, que apesar de estar afastado desta luta, não posso esquecer o seu determinado e corajoso contributo para que o rio este ano já esteja diferente do ano anterior e por isso foi louvado pela Assembleia de Freguesia de Riachos, por proposta do BE.
Este jornal tem publicado alguns textos de reflexão sobre o estado actual de Riachos e pretendemos alargar esse debate, recolhendo diversas opiniões. Solicitando também o seu contributo, como é que o presidente vê hoje Riachos e o que espera que venha a ser esta Freguesia no futuro próximo?
Riachos é um potencial social e económico para o concelho e para a região. Por isso, espero que progressivamente se melhore a qualidade de vida em termos de espaço urbano, industriais e ambientais e que os responsáveis pela gestão do município assumam isto de uma vez por todas. São objectivos a assumir em parte pela Junta, mas essencialmente pela Câmara, e quero acreditar que se irá ver certamente. Hoje vejo coisas positivas mas também vejo com alguma tristeza a degradação de algumas zonas urbanas da freguesia de Riachos, a intervenção que tarda na zona industrial, equipamentos desportivos por concluir, mas como disse quero acreditar, e vou trabalhar em conjunto com a Câmara para que o futuro de Riachos seja uma Vila onde dê gosto viver.
O José Júlio foi eleito há um ano com uma maioria expressiva, mas já tinha concorrido na eleição anterior mas a lista que encabeçava nessa altura quase que fez um esforço para não ganhar. A sua candidatura, então, não desenvolveu qualquer acção que mobilizasse os Riachenses. Terá sido excesso de confiança? Não acha que se tivesse tido outra mobilização, poderia ter ganho a eleição e tinha poupado a Freguesia a este percalço de ter de passar por eleições intercalares?
Não foi excesso de confiança, mas reconheço que equacionei mal algumas situações e a forma de passar a minha mensagem mas penso que de qualquer forma era muito difícil superar a candidatura então vencedora, pela novidade e até porque os eleitores acreditaram na qualidade e competência dessa candidatura.
As movimentações para as próximas eleições autárquicas estão aí à porta. Está motivado para se candidatar a um novo mandato?
Motivação tenho. Riachos é uma grande motivação. Agora, ainda não pensei nisso, ainda é cedo.
Caso se apresente a novas eleições, qual é o seu projecto para um novo mandato de quatro anos?
Como disse, ainda não pensei nisso, mas a criação dum espaço integrado com uma nova Casa Povo, com base na proposta que foi apresentada pelo Bloco de Esquerda e aprovada na Assembleia de Freguesia, e o atual espaço do mercado, que a Câmara já manifestou disponibilidade para adquirir, parece-me uma obra estruturante e fundamental para a nossa qualidade de vida. Mas há outros projectos a equacionar, como um relvado sintético e a criação de condições para os nossos jovens jogarem futebol e não terem de saír da terra que os viu crescer e de que gostam. Custa-me muito ver filhos de amigos meus com camisolas de outros clubes. Vamos ter de pensar tudo muito bem, até porque vai depender muito de quem estiver na Câmara.
Apesar de ser pública a sua amizade com o presidente da Câmara Pedro Ferreira, ainda assim, o relacionamento da Junta com a Câmara não tem sido fácil. Porque é que há sempre esta dificuldade entre a Vila e a Cidade?
O presidente Pedro Ferreira é um grande ser humano, amigo de toda a gente. Agora, não devemos confundir as coisas. A gestão municipal não é fácil e a da Junta também não, por limitações financeiras e por questões de operacionalidade, o que leva a choques de interesses. Mas, em conjunto, penso que temos sabido concertar o possível.
Pedro Ferreira será certamente recandidato à Câmara mas também o ex-presidente António Rodrigues parece querer perfilar-se num recandidatura. Se isso acontecer, sendo candidaturas da mesma área política onde o José Júlio se insere, para onde pende o seu coração?
Nunca me candidatarei contra o presidente Pedro Ferreira, se ele cumprir em 2017 aquilo que projectamos fazer. Se isso não acontecer, logo se vê.
Nas eleições em que António Rodrigues ganhou, o peso do eleitorado Riachense pouco interferia nas maiorias que ele obtinha, pois Rodrigues gozava de grande apoio na cidade e no norte do Concelho. Num cenário de recandidatura de Pedro Ferreira, concorrendo este isolado ou enfrentando Rodrigues, o eleitorado Riachense já pode ser decisivo. Assim sendo, neste tempo que resta, Pedro Ferreira podia virar atenções para Riachos para cativar este eleitorado. Acha este cenário provável? Esta “luta de galos” podia de alguma forma resultar em algo positivo para Riachos?
Não podemos esquecer o que foi feito e se em 2017 conseguirmos fazer aquilo que está programado, já é razoável. Não creio que em pouco tempo se possa programar e executar grandes coisas e que a eventual candidatura de António Rodrigues tenha influência nisso. Também não sou capaz desses cálculos políticos. Nem alinhava neles. Interessam-me as pessoas, ajudar a fazer avançar e a tentativa de resolver os problemas, não o jogo político.
Para terminar, seja o José Júlio candidato ou não a um novo mandato, o que é que podemos esperar de si até Outubro próximo?
Estar sempre ao lado das lutas e ambições dos Riachenses, trabalhar na tentativa de resolver os problemas que se nos apresentam e a realização de algumas melhorias na freguesia de Riachos, como por exemplo, requalificação do Largo da Igreja Velha; repavimentação de algumas ruas na freguesia; novos passeios; lançamento do concurso para conclusão do ginásio do pavilhão; início da intervenção na zona industrial e outras de menor dimensão mas de grande utilidade, como iremos ver.