o riachense

Tera,
16 de Abril de 2024
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Carlos Simões Nuno

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Boletim Meteorológico

 

Como é linda a natureza

Andava um lacrau a deambular pelos campos, quando chegou junto a um ribeiro que logo lhe apeteceu atravessar. Não sabendo nadar, procurou o lacrau quem o carregasse para a outra margem e encontrou uma rã, prestes a entrar na água.
- Ó rã, rogou ele, não me levas às cavalitas até ao outro lado?
Desconfiada de tal personagem, logo a rã deu dois saltinhos atrás e respondeu: o que o senhor lacrau quer é ferrar-me o aguilhão nos costados...
- Ó rã, francamente, que patetice é essa? O que é que eu ganhava com isso? Não vês que, assim, logo eu me afogava? - cantou-lhe o lacrau em resposta.
Pouco convencida mas não encontrando falhas naquela lógica, a rã lá acedeu a servir de transporte ao peçonhento bicho. Ainda nem tinham chegado a meio da corrente, contudo, quando a rã sentiu a fatal ferroada do lacrau bem no meio das costas.
- Para que fizeste tu essa estupidez? ainda teve tempo de se indignar, já meio morta pelo veneno.
- O que é que tu queres, ó rã? - justificou-se o lacrau antes de se afundar - é esta a minha natureza...
Não sei se o preclaro leitor já recuperou do desastre anunciado a semana passada pela dupla de porta-vozes da banca internacional Sócrates & Santos, mas se ainda estiver como eu um bocado estupefacto, pasmo e atónito, não com o défice público, que esse era mais que conhecido e via-se a olho nú, mas com as receitas que aqueles empregados bancários dizem que o vai resolver, então talvez valha a pena ler, entre centenas de exemplos que todos podíamos invocar, a história contada por Ferreira Fernandes no Diário de Notícias de 30 de Setembro, a do vogal de uma das várias dezenas de empresas públicas que para uma reunião no Porto, não gostando de fazer a viagem de carro desde Lisboa, pela auto-estrada fora, foi de avião até Pedras Rubras... onde o esperava o motorista da empresa, a quem o senhor mandou ir de carro pela tal auto-estrada enquanto ele voava sobre ela, para ter quem o levasse do aeroporto à baixa da cidade e, após a reunião, o transportar de novo ao aeroporto para o regresso a Lisboa, voltando o homem outra vez de carrinho às costas auto-estrada fora, até à capital.
Se ainda se sente meio espantado, aturdido e pasmado com a facilidade com que se chegou a este estado das coisas, recorde-se do cerca de um milhar de processos de classificação
de monumentos, de pontes a igrejas, de castros a palacetes por todo o país, muitos destes processos aos repelões ou a ganhar pó há vinte anos ou mais e que irão prescrever e ser encerrados no final deste ano, sem glória nem proveito, enquanto o ministério da cultura, inchado de novo riquismo, se entretinha a classificar edifícios “em risco” e a “precisar de valorização”... como o Centro Cultural de Belém! Basta que alguém, no IPPC/IPPAR/IGESPAR tenha perdido apenas quatro dias com cada um daqueles processos para daqui a pouco cerca de 12 anos de trabalho irem para o lixo...
No caso de ainda lhe custar a encaixar quer o diagnóstico quer a terapêutica, que muito provavelmente irá matar o doente, e por isso estiver assim a modos que azamboado,
admirado e entontecido com tudo isto, leia outra vez a notícia, para ver se desta vez acredita, de que a PSP vai comprar (sem concurso
público, naturalmente) cinco - milhões de euros – cinco em material como blindados urbanos e outros brinquedos do género, a pretexto da protecção de suas excelências na próxima cimeira da NATO, a realizar em Lisboa em Novembro.
Enfim, para não maçar mais e deixar matéria para muitas outras conversas, que se vão justificar quando, antes da Páscoa, vier o anúncio do próximo apertão – é mais que garantido, Sócrates já disse que isso não acontecerá! – caso ainda esteja, como eu estou, surpreendido, atordoado e assarapantado, tem sempre os submarinos (goste-se ou não, para quem quiser pensar Portas disse a semana passada a frase política do ano, quando Sócrates lhe atirava à cara a responsabilidade por esta aberração e ele respondeu que Teixeira dos Santos e o próprio Sócrates eram membros do governo que assinou o contrato de compra), as centenas de fundações públicas e semi-públicas, os Coelhos, os Varas, os Dias Loureiros, as entidades reguladoras, incluindo as cómicas como a da Concorrência, as frotas automóveis, os subsídios de reinserção profissional (olha, estes não acham eles despropositados!), as reformas dos deputados, os dias da defesa nacional e demais entreténs de boca e exemplos de criatividade.
Se estiver, apenas, indignado e envergonhado por viver nestes tempos e ter de partilhar o oxigénio com personagens como Almeida Santos, autor da frase mais salazarista pós-25 de Abril (“o povo tem de sofrer as crises como o governo as sofre”), saiba que já somos dois.
Se eles podiam fazer as coisas de outra maneira, ó garbosos leitor? Então não podiam?! Só que não era apenas isso assim não ser a mesma coisa, é que, pura e simplesmente, é esta a sua natureza.
O que eu ainda não compreendi bem, o que ainda não consegui responder, é outra coisa: e nós? Afinal, qual é a nossa natureza?

Actualizado em ( Quinta, 21 Outubro 2010 09:11 )  
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