o riachense

Terça,
23 de Abril de 2024
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Carlos Tomé


A ser respeitado o calendário criado há uns tempos, o ano de 2012 será ano da Festa da Bênção do Gado em Riachos. Isto é o que nos diz a previsão efectuada em 2000, pois foi nesse ano que se tomou a decisão de fazer a festa de quatro em quatro anos. Mas, diz-nos o pensamento dominante: estes dias de crise não estão para festas. O dinheiro escasseia para coisas essenciais, sendo muitos os que se esfalfam para conseguir aguentar uma vida cada vez mais difícil. E ainda por cima, tudo aponta para que no próximo ano o panorama não melhore, sendo até previsível que a crise cave ainda mais um pouco a sua desolação. Portanto, o ano que vem será para a grande maioria um ano ainda mais difícil do que este.
Assim, cabe perguntar se se justifica fazer a Festa num tempo de crise. Haverá vontade da população para festejar, quando os tempos são de grave crise? Haverá condições financeiras para custear um grande investimento como o da Festa? Haverá suporte e condições operacionais para isso? Estes são pensamentos óbvios que consomem o comum dos mortais.
No entanto, tenho para mim que é nos momentos de crise, como a que atravessamos, que devemos mostrar resistência, que nos devemos agarrar à vida, dando a volta por cima. Assumir novos desafios, empreender ousadias, usar a imaginação, criar saídas, contrariar o mal-estar instalado, lutar contra a corrente. A crise vive também muito de um certo estado de espírito derrotista, triste, acabrunhado, desalmado. Vivemos estes momentos de crise com o mesmo ânimo com que o condenado se encaminha para o cadafalso. E não pode ser. Não lhe podemos dar essa satisfação. A maldita crise – seja ela o que for – não o merece.
É precisamente nestes momentos que o estado de tristeza mais carregado e mais permanente deve dar lugar à rebeldia, à contestação, à capacidade de realização, à perspectiva de levar o barco a bom porto contra ventos e marés adversos. É nestes momentos que nascem os povos que lutam, as gentes que ousam desafiar o destino negro, que riem, mandam a tristeza às malvas e teimam em viver e fazer da vida uma festa.
É disso que precisamos. De gente que não vire a cara ao lado às primeiras dificuldades e encare as arestas da vida como desafios a vencer. Mas para isso é preciso que se encare a Festa como um momento indispensável no percurso de vida de um povo.
A Bênção do Gado constitui a fase mais importante na vida deste povo, um acontecimento único, algo que brota de si e que lhe é único e específico, a característica mais identificadora da sua personalidade. Por isso a Festa salienta a diferença, é a sua marca identificadora, o seu carimbo indelével. E, por isso, deve ser encarada como absolutamente indispensável para a sobrevivência desta população, para a preservação da sua alma, para a modelação constante do seu rosto. A preservação da comunidade riachense depende muito da sua ligação à terra, da representação da sua história, da salvaguarda da sua memória, da criação de marcas que a identifiquem e nas quais ela se reveja como se vê uma imagem num espelho. A Festa dá e recebe a imagem da sua comunidade. Sem Festa esta terra não seria a mesma.
Por esses e muitos outros aspectos a Festa não pode deixar de ter lugar no calendário de Riachos no próximo ano. Porque sem ela, esta terra perde o que lhe resta de identidade e caminha a passos largos para a sua morte como localidade com um sentir próprio, ao diluir-se na massificação igualitária dos nossos dias que tudo trata tudo por igual. A Festa é o ponto mais alto da expressão colectiva de uma população que rebusca no mais íntimo de si as memórias e as raízes que fazem dela uma comunidade bem vincada. Sem Festa esta comunidade deixaria de o ser, enterraria o seu amor-próprio, desistiria do orgulho de viver uma vida própria e seria arrumada na prateleira das coisas inúteis, iguais a tantas outras, sem marca que a distinga.
Mas para haver Festa é preciso que se perceba a importância de não quebrar o ciclo, de não partir a corrente, de dar uma valente nega à crise e de enfrentar as dificuldades de frente. Basta haver vontade de manter a tradição que muitos outros antes de nós criaram e que nós temos a obrigação de não deixar morrer. Mesmo nos mais negros tempos de crise. Ou principalmente nesses tempos, como são os de agora. O resto vem por acréscimo. Com uma grande dose de ousadia e outra de realismo, se deverá encarar a próxima Festa da Bênção do Gado. Mas será isso suficiente para que ela surja aos nossos olhos?

Carlos Tomé

 

Actualizado em ( Quinta, 27 Janeiro 2011 12:27 )  
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