Hoje e amanhãUns dizem agora que se arrependem da Revolução dos Cravos, outros dizem que foi um mal necessário, outros sentem-se orgulhosos. Enfim, há opiniões para todos os gostos e de todos os feitios.
Uma coisa é certa: todos pedem um país unido, solidário, como que a preparar-nos para algo que está para vir. E estará, de facto. Nada bom, por sinal.
As manifestações populares existem e existirão, e até podem ser entendidas, na minha óptica, como algo saudável, na medida em que demonstram que ainda há pessoas a não baixar os braços, a acreditar em alguma coisa… A lutar, em última instância, por alguma coisa.
Mas todos sabemos que estamos num buraco negro, que somos um país coberto e recheado de desigualdades. Creio que os políticos pedem união, e não será certamente nesse sentido, dado que são eles os grandes impulsionadores dessas desigualdades. Pedem união, presumo, às classes mais baixas… Àquelas a quem faltará talvez o essencial, àquelas que já tiveram algo e agora não têm tanto e às que nunca tiveram muito e agora têm quase nada. E o limiar da pobreza aumentará…
Ora, estas pessoas, nas quais estou inserida, formam o grosso de população eleitora, e eles (políticos) precisam da nossa união para conseguirem votos.
Agora não estamos bem, mas… Como estaremos amanhã? Num futuro próximo não estaremos, em princípio, muito melhor…
Com ou sem revoluções, com ou sem “vinte-cincos-de-abril” e “primeiros-de-maio”, algum dia teremos de sair deste buraco negro.
Para já, a minha sugestão, que vale o que vale, é a de aproveitarmos os dias, sermos bons naquilo que fazemos mas felizes também; vermos o nascer do sol, cuidarmos de nós, fazermos coisas que nunca fizemos ou que fazemos regularmente e das quais retiramos boas experiências.
Porque o amanhã é uma incógnita. E porque o Presente não é mais do que uma prenda que nos é oferecida a todos os instantes, e que vamos desembrulhando à nossa maneira. É isto.
Mária Pombo
(N.R. Devido a um problema imprevisto, este artigo não saiu na edição de 4 de Maio)
