o riachense

Sexta,
26 de Abril de 2024
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António Mário Lopes dos Santos

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CIDADANIA – 50%

 


Era bom desenhar a escrita do tempo

1 -A primeira medida que o primeiro-ministro Dr. Passos Coelho, em nome do governo de coligação, veio anunciar, não constava dos programas eleitorais, nem dos protocolos com a Troika: o corte de 50% dos subsídios de Natal. É um péssimo exemplo de início de mandato e uma má notícia para o conceito de transparência política com que se apresentou à população o governo PSD-CDS.
Sou um docente reformado, casado com outra docente no activo. Não tenho quaisquer outros rendimentos, além da minha reforma e do vencimento do casal. Como não há ascendentes a cargo, e os descendentes sobrevivem, a célula familiar, reduzida ao casal que somos, com alguma contenção em relação ao supérfluo, que lhe permite, se o desejar, o usufruto de alguns pequenos prazeres, como uma ou duas semanas de férias nacionais contidas no verão, sem grandes devaneios, a compra de livros ou, mais raro, viagens por este Portugal tão desconhecido, em busca das suas memórias e raízes.
As minhas actividades e as de minha mulher, a nível do voluntariado, são conhecidas. Mas, infelizmente, a apologia do voluntariado, que enche a boca dos governantes, sem qualquer contrapartida, a nível fiscal, que consagre o que tanto defendem para os outros, eles que, a cada cuspidela nos media, recebem aos milhares de euros. Cada ano que passa trabalho voluntariamente mais para a colectividade, e cada vez pago mais impostos, pelos rendimentos que recebo, sem melhorias, há mais duma década. Não estou arrependido, mas creio que dou muito gozo aos que nunca ofereceram de si um minuto gratuito. Ainda mais quando me roubam, no subsídio de Natal, o triplo ou o quádruplo dos que se riem, ainda que as formas exteriores de riqueza sejam incomparáveis. Mas, para aqueles, o fisco tem vista curta, mão leve, conhecimento enublado.
Espero, por isso, após a vitória da direita liberal e democrata-cristã, o prosseguimento da quebra dos rendimentos familiares, não só no subsídio de Natal, onde um casal como o meu perde, efectivamente, quase 50% de ambos, como outras reduções, algumas já aplicadas, pelo governo socialista de José Sócrates para responder à crise política e económica que a globalização do capitalismo espalhou e aquele nacionalmente agravou, em nome duma política que deveria, no mínimo, ser objecto de investigação da justiça portuguesa.
Tenho de dar razão aos que nunca fizeram uma greve, e, questionados, respondiam: não sou sindicalizado, tu és. Não pago quotas, tu fá-lo. Nas greves, tu descontas, eu não. Nas vitórias sindicais, eu ganho à tua custa. Para quê preocupar-me?
E, sem ilusão, consciente da absoluta realidade que será o aumento dos preços dos produtos essenciais, dos medicamentos, das taxas de saúde, dos transportes públicos, dos preços da electricidade, do gás, da água, das rendas de casa. Basta alterar a taxa do IVA, para que a desigualdade se acentue entre ricos e pobres. Ou a redução da Taxa Social Única para transferir as reduções dos vencimentos do trabalho para os contas bancárias dos empresários. E não é só este o aumento com que o governo se prepara para taxar o trabalho, que não, por exemplo, os cerca de 30% da economia paralela, que aumentam e reforçam as contas bancárias, aqui e nos paraísos fiscais, sem um mínimo de preocupação contra o enriquecimento ilícito.

2 - A viragem eleitoral do povo português à direita não me surpreendeu. Desde o 25 de Novembro, na consequência da subserviência do partido socialista português às leis do mercado especulador e financeiro, este país foi empurrado de forma consciente, com submissão resignada, senão participante, das populações, para a desigualdade económica e social, para a corrupção, para a exploração desenfreada, com consequências para a qualidade de vida e para o aumento acelerado do desemprego.
Atente-se na rota de vida dos dirigentes socialistas, entre o partido, o governo e os conselhos de administração da banca, empresas públicas e privadas. Percebe-se bem, hoje, como os empréstimos europeus se sumiram em obras que nunca custaram o preço inicial e nunca se sabe se o custo final foi aquele ou aquele menos a parte que só os deuses sabem em que offshores foram colocados.
Portugal é um país periférico numa Europa onde o conservadorismo liberal, hoje, dita as leis da política e da economia, agravando as condições de vida dos trabalhadores e do ambiente, este cada vez mais próximo duma ruptura, impossibilitando a sobrevivência da vida biológica. Já Marx previa que o Capital antagonizaria o Trabalho e o Planeta, tentando controlar ambos. Só que, sem eles, não sobreviverá.
A desilusão criada por um sonho da Europa que era para ontem e que se transformou num pesadelo diário na bolsa e no emprego em risco ou perdido de cada um, num país divido por uma linha longitudinal entre o litoral desenvolvido e o interior entregue ao abandono e à desertificação, conduziu a resultados eleitorais perfeitamente previsíveis, que deveriam fazer pensar seriamente – o meu cepticismo duvida – as forças políticas de esquerda, PCP, Bloco de Esquerda, movimentos cívicos e políticos, cada vez mais longe das intenções populares de lhes garantirem, de forma democrática, pelo voto, a chegada ao poder.
            
3 - Espero que as novas gerações, marginalizadas pelas políticas neo-liberais (mas não só) que destruíram, sob capa socialista e social-democrata, por décadas, o sonho duma democracia socialmente justa em Portugal, castiguem duramente as futuras ambições eleitorais do Partido Socialista, os verdadeiros responsáveis políticos do estado a que chegámos.
Como pode, pergunto, ser credível na oposição, hoje, um PS que ontem defendia e partilhava, de forma pretoriana, as veleidades, abusos, arbítrios, de Sócrates e do seu clã? Serão aqueles socialistas com assento na Assembleia da República, nas câmaras municipais, nos conselhos de administração, na segurança social, saúde, educação, administração pública, os boys do aparelho socrático, quem vão ser a voz contra o liberalismo conservador da maioria da direita que hoje nos governa, com o programa que aqueles iniciaram, partilharam e assinaram?
 Que podem essas novas gerações, senão construir o seu próprio tempo?
Com dirigentes seus, movimentos seus, caminhos seus?
A ver vamos o que isto dá.

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