o riachense

Sábado,
20 de Abril de 2024
Tamanho do Texto
  • Increase font size
  • Default font size
  • Decrease font size

Farinha Marques

Enviar por E-mail Versão para impressão PDF

No centenário de Alves Redol

 

1. Sob os auspícios da Câmara Municipal da Golegã, estão em curso os actos preparatórios da homenagem - que se pretende digna e luzida - ao escritor António Alves Redol, no centenário do seu nascimento (Vila Franca de Xira, 29 de Dezembro de 1911).
O romancista era filho de António Redol da Cruz, comerciante de bastos haveres, com estabelecimento naquela localidade, como se vê de um reclamo, que remonta à década de 30, publicado no jornal Vida Ribatejana :" António Redol da Cruz - Torrefacção e moagem de cafés pelo sistema electromecânico - Mercearias a retalho e atacado - Rua Palha Blanco - Vila Franca de Xira" .
Alves Redol tinha profundas relações de afecto e de sangue com a vila da Golegã, com os camponeses da Golegã: "todas as costelas que me arqueiam o esqueleto vêm de camponês (...)" . Os avós do escritor eram camponeses: do lado do pai, João Redol, maioral, casado com Ana da Guia, avieira de condição; por banda da mãe, Venâncio Alves, ferreiro, e sua mulher Maria da Purificação.
Fanga é o quarto romance do escritor, publicado em 1943; um expressivo repertório de memórias e vivências, próprias e alheias, no quadro da vila da Golegã, na década de 40. E também um espelho, sem disfarces, das inquietações e alegrias do seu povo.

2. Do romance tirei o extracto que segue, o qual, salvo melhor opinião, é uma síntese lapidar da situação do camponês, numa sociedade profundamente estratificada, involutiva, tal qual a da Golegã, naquela época.
Sem menoscabo para os mais novos, caros leitores, atrevo-me a pensar que, nos homens e mulheres da minha geração, o texto alcançará outro eco. Vejamos então:
"Acordara com medo de despertar a minha irmã, ficara muito quieto no meu lado, embora me apetecesse puxar a manta mais para mim, pois a noite estava fria e só com aquela coberta sentia-me enregelar. O vento assobiava nas telhas e rumorejava na figueira do quintal. Afastado o sono, pus-me a pensar em milhentas coisas, daquelas que povoam a cabeça dos rapazes dessa idade. Trabalhar muito, forrar dinheiro e fazer ver a toda a gente que era um homem, capaz de chegar para a situação criada com a morte de meu pai. Como uma vez me dissessem que havia homens ricos nascidos do nada, levei a fantasia para esse lado e sonhava-me com casa e terras minhas, mesa farta, mulher recatada e filhos bem criados, tendo escola como o do meu patrão onde fora pastor. Com a escola lembrei-me do Barra e fiz o propósito de procurá-lo para me ensinar umas letras, pois queria tentar por mim aquilo que a minha família não me podia dar."

3. Pungente. É a denúncia, sem rodeios, da pobreza, do circulus inextricabilis da pobreza: o catre exígio onde pernoitavam Manuel Caixinha e Anita, sua irmã; a manta que, de tão breve, não os acobertava do frio; o quarto ou tugúrio de telha vã, à mercê do vento e da chuva; o sonho de Manuel Caixinha que representava a ambição de possuir casa própria, terras suas, mesa farta, mulher e filhos bem cuidados; e escola, em vez de guardar gado; saber ler e escrever como Josefino Barra, um farol que o guiava no sonho.
Afigura-se-me, caro leitor, que este trecho o não deixou indiferente, e saberá, por certo, aferir o realismo da sua construção.

Actualizado em ( Quinta, 06 Outubro 2011 14:38 )  
{highslide type="img" height="200" width="300" event="click" class="" captionText="" positions="top, left" display="show" src="http://www.oriachense.pt/images/capa/capa801.jpg"}Click here {/highslide}

Opinião

 

António Mário Lopes dos Santos

Agarrem-me, senão concorro!

 

João Triguinho Lopes

Uma história de Natal

 

Raquel Carrilho

Trumpalhada Total

 

António Mário Lopes dos Santos

Orçamentos, coisas para político ver?
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária