o riachense

Sexta,
29 de Maro de 2024
Tamanho do Texto
  • Increase font size
  • Default font size
  • Decrease font size

Luís Pereira

Enviar por E-mail Versão para impressão PDF

Malik

Um riachense no Mali

Domingo, 23 de Setembro de 2007, acordei às 3 da manhã, muito mal disposto. Levantei-me e fui beber água. Voltei a acordar às 4, ainda pior. Fui vomitar. Coisa muito esquisita. Mais tarde associei esta indisposição ao medicamento preventivo da malária, o mephaquin, deixei de o tomar e passei a sentir-me melhor. O pessoal do laboratório voltou ao campo para as sondagens e eu sai com o Hassan, para ir a Bakel, fazer o negócio das estacas. Quando chegámos ao km 8, encontrámos o jipe do laboratório atascado, conseguiram ficar na única poça de água em quilómetros. Tive os puxar com a minha carrinha. Segui para Gouraye. Chegámos e fomos falar com a polícia, para saber se podia comprar cerveja. Autorizaram. Partimos para Bakel. Começámos a procurar carpinteiros, que não, não faziam estacas. Na terceira casa começámos a negociar, estávamos a ir a algum lado. O carpinteiro, Malik de seu nome, perguntou-me se era francês, quando respondi que era português, começou a chorar e chamou-me irmão. Disse-me que era guineense. Foi uma situação emotiva. Chegámos a acordo muito fácil. Era de Bafatá. Os portugueses foram muito bons para a Guiné. Sabe bem ouvir dizer bem de nós. Fui com o Hassan a casa do seu irmão, trocou-me euros por francos. Comprei cerveja. Passámos para a Mauritânia. Cheguei a Selibaby e fui comer bacalhau. O dia foi produtivo. As estacas ficam mais baratas que em Kaédi.
Domingo, 30 de Setembro de 2007, levantei-me de manhã, 7 e meia, despachei-me e lá fomos nós para Bakel, buscar estacas. Levámos dois carros, porque muita gente quis “ajudar”. O Baltazar, o João, o Luís, mais o Hassan e o seu irmão Ahmed e a americana Caren. Quando chegámos a Gouraye, lá tive que voltar ao calvário, de falar com a alfândega e a polícia. Ainda não tenho autorização do governador para importação de bebidas alcoólicas. Ele tem estado sempre em Nouakchot. Depois de tudo muito bem falado e conversado, lá partimos. Em Bakel fomos direitos à casa do irmão do Hassan, o pessoal queria todo trocar dinheiro. Depois só queriam um bar para beber cerveja. Como nestas coisas acontece sempre, achámos logo um, o “Chez Jeanne”, claro entrámos e foi logo a matar, cinco “Flag” de 65 cl. E eu não queria, mas… E olha, saímos de lá quando esgotámos as “Flag” e experimentámos as “Gazelle” mas o pessoal não gostou muito. Fomos almoçar ao “Hotel Islam”. Só tinham quatro doses. De peixe com arroz. Que venha. O João só dizia e cerveja? Mas nada. Não tinham. Saímos e fomos ter com o Malik, verdadeira razão da nossa ida a Bakel. Grande festa. Toda gente se meteu com ele. Paguei-lhe. Ficou a atar as estacas em molhos. Foi-nos levar novamente ao bar da semana passada. Havia “Flag”. Mais duas para o caminho. Alugámos um táxi. Parecia que estávamos no filme do Borat, todos ao molho, um carro atado por arames e vários molhos de estacas no tejadilho. Atravessámos de barco e direito a Selibaby. Nunca pensei que fazer 45 km vezes dois fosse tão duro. Duas horas para cada lado. A areia já está seca e solta. Os carros têm dificuldade de tracção. O pó fica no ar por longo tempo.
O Malik veio a revelar-se uma autêntica bênção durante a nossa estadia em Sélibaby. Foi militar do exército português, durante a guerra colonial. Ficou lá porque era guineense, leia-se “preto” e foi preso depois da independência junto com muitos camaradas de armas, levado para um campo de concentração, ao contrário da maioria dos seus camaradas, que foram assassinados, conseguiu escapar para o Senegal, onde reconstruiu a vida. Continua até hoje a considerar-se português, vá lá saber porquê. E nós que nos consideramos diferentes dos racistas ingleses ou americanos, abandonámos muitos militares à sua sorte só pela cor da sua pele, a estes o 25 de Abril de 1974 não trouxe a liberdade…

 
{highslide type="img" height="200" width="300" event="click" class="" captionText="" positions="top, left" display="show" src="http://www.oriachense.pt/images/capa/capa801.jpg"}Click here {/highslide}

Opinião

 

António Mário Lopes dos Santos

Agarrem-me, senão concorro!

 

João Triguinho Lopes

Uma história de Natal

 

Raquel Carrilho

Trumpalhada Total

 

António Mário Lopes dos Santos

Orçamentos, coisas para político ver?
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária
Faixa publicitária