Pedro Barroso

Opinião
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Esta coisa complexa de viver

Amigos,

Não sei o que vem para aí em 2015 - ninguém sabe. Mas o que passei em 2014 deu-me uma condição diferente para prosseguir. E acrescentou-me dados para outro pensar, outro viver, outro sentir.

Perder o domínio de nós mesmos e criar dependências tão profundas como as que tive e sofri, ensinou-me que as coisas do viver devem estimar-se bem acima das frivolidades e valores efémeros que diariamente nos propõem.

Fiquei sem falar; desejei a morte; fiquei sem consciência; fiquei sem andar. Reaprender tudo isso foi um acto de insistência e de coragem que me servirão de paradigma para todo o futuro que ainda possa acalentar. Desejo a mesma força - que hoje me permite andar quilómetros - a todos os que das adversidades da vida retirem o lado pedagógico e epifânico desse Conhecimento.

Não é esoterismo - é a mais sincera realidade. É essa força, e só ela, que nos pode ajudar a superar a tanta nulidade que nos rodeia. E por isso devemos dar importância apenas ao que a mereça.

Perdi a paciência para as minúcias indagadas e perscrutativas do tostão. Perdi a tolerância a chatos, imbecis, teóricos da treta e comentadores orçamentistas, em geral. Valorizo hoje muito a vida e os amigos. Corto a direito quando sou incomodado por vendedores de banha da cobra; eles atacam na política, comércio, media, informação, bancos, seguros, etc. 

Valorizo a Arte e a Cultura como expoentes maiores do significado de existir. Valorizo a qualidade do que me sobra e a amizade dos que ainda ma saibam transmitir. Valorizo a memória dos momentos bons. A boca de todas as mulheres que amei e que beijei. Todos os versos que li, todas as pinturas que gostei. Todas as esculturas que me seduziram e clandestinamente afaguei.

Viver tem de ser uma orgia de sabores e de saberes. E nunca um estar amanuense e cívico, de manga-de-alpaca bem comportada, contabilizando lantejoulas e outras imundices da maledicência.

Viver tem que ter magia e sedução. Eu quero lá saber dos que não sabem apreciar um pôr-do-sol. Um poema. Uma melodia, uma paisagem. Um qualquer sabor cozinhado com amor, no forno a lenha dos avós.

Sou poeta, sou um deslocado no tempo e na história. Sim. Sou um homem de quinhentos; sem passaporte nem destino previsto. Mas é assim que acredito que valha a pena. 

Os dias devem ser azuis, mesmo os cinzentos. Porque dentro deles habita uma flor e um beijo. Uma descoberta e um novo despertar.

Só assim devemos viver. Com esse sentido maior de desfrute e da raiva de existir. Senão, amigos, estar vivo não valeria a pena. 

Só assim vos desejo Bom Ano 2015 - E todos os anos dos anos que hão-de vir!


Actualizado em ( Terça, 27 Janeiro 2015 23:20 )