Mária Pombo

Sexta, 09 Dezembro 2011 16:39 Opinião
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Com medida e preço


Despediram-se com um beijo. Especial e único como todos os outros.
Aquela seria mais uma longa viagem… O tempo que pudesse durar seria sempre uma incógnita.
A menina, tranquila como sempre, ficou a vê-lo desaparecer em passos firmes no horizonte.
Conduziu-se depois instintivamente até ao cais, o refúgio secreto. Esse era uma parte dela que ninguém conhecia.
Era um cais provinciano, sem grandes artefactos e sem luxos, só com meia dúzia de barcos de madeira, gastos pelo tempo e pelo uso. Tinha o essencial: um bocado de terra onde se pudesse sentar e, mais do que isso, uma paz única, entre a desordem da vegetação e a pureza de um lugar muito pouco utilizado para usufruto humano, que mais lugar nenhum no mundo tinha a capacidade de lhe proporcionar. Ou não fosse ele ribatejano…
Não havia companhia melhor que aquela, nem construção mais acolhedora.
Sentou-se junto da água, apertando os joelhos contra o peito. Quereria afastar o vazio? Talvez…
Seria aquele o primeiro dia de liberdade? O primeiro dia de tormento? Ou o primeiro dia de mais uma separação que ocupa o tempo de uma eternidade e o espaço de um vendaval porque vivida e sentida como tal?
Fechou os olhos, tentou segurar as lágrimas. Impossível.
Olhou o rio, conversou com as ondas miúdas, sentiu-se observada pela lua e aconchegada pelo céu limpo e estrelado. Os grilos e alguns peixinhos também quiseram dar as boas-vindas.
E assim ficou, entre lágrimas mitigadas e sorrisos tímidos, tendo perdido a noção do tempo.
Naquela noite não tinha planos nem obrigações. Pertencia-se a si própria por um prazo indeterminado.
E gostava. Ser-se sua e oferecer a sua companhia a si mesma era uma sensação fantástica, que teria descoberto não havia muito tempo.
Deixou-se ficar.
Nesse momento percebeu que afinal o amor tem uma medida e que a felicidade tem um preço.