André Lopes Opinião
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Vitórias que são derrotas e vice-versa: Na Golegã, nada como dantes

Nas análises aos resultados das eleições autárquicas de 29 de Setembro, algo constitui denominador comum: todos são vencedores de alguma coisa. A Golegã não é excepção. 
Mas uma coisa é o que se quer fazer crer, outra o que realmente é. Deixemos de lado as “análises numéricas”, as estatísticas, as médias e as tendências de uns quantos comentadores enviesados e vamos ao que interessa: a realidade tangível que tem como origem os resultados.
Quem foi derrotado na corrida aos órgãos do Município da Golegã? O PS e o movimento de Veiga Maltez. Como era de esperar. O substancial capital eleitoral amealhado por Veiga Maltez quase lhe permitiu, e ao seu movimento, ganhar a Câmara. Quase. Mas o PS é o PS e quem se mete com o PS, leva. Não tanto quanto queria dar, mas o suficiente para a vitória. Amarga e com sabor a derrota. Passar de cinco para dois vereadores é petisco difícil de digerir. Ficar dependente da oposição é tão mau como perder.
Ouvindo-se o registo da campanha eleitoral, e ao que foi dito então, dificilmente Rui Medinas irá recorrer aos vereadores eleitos pelos independentes. Mais fácil lhe será procurar o “apoio” que lhe falta para uma governação minimamente calma junto do PSD/CDS.
PSD e CDS estes que foram sem dúvida os vencedores ao recuperarem o vereador perdido pelo PSD em 2009. Não tendo ganho a capacidade de executar, ganharam a capacidade de influenciar. Mas se Rui Medinas procurar apenas apoio, e atendendo à “genética” actual do PSD da Golegã, pode não o obter. A coligação irá decerto tentar capitalizar a sua capacidade de influenciar, ganhando capacidade de executar. Outro repasto difícil de engolir para as hostes socialistas, que se horrorizarão decerto ao ver José Godinho Lopes, num cenário destes, assumir alguns pelouros de “elevada visibilidade”. Não aceitando essa inevitabilidade resta a Rui Medinas navegar à vista, negociando ponto a ponto, dotação a dotação, com a oposição a fazer valer os seus três votos.
Situação que se transpõe para a Assembleia Municipal com PS e José Maltez empatados em número de lugares, com três presidentes de Junta também cada um deles alinhado com uma das forças mais votadas e três deputados municipais prontos para decidirem sentidos de votação. Uma coisa é certa: Veiga Maltez ganhou a Assembleia Municipal, mas não é, ainda, presidente da mesma.
Nas Juntas de Freguesia nada de especial aconteceu. No Pombalinho, Luís Filipe Júlio capitalizou, como era de esperar, o desempenho dos seus quatro anos de governação e, com uma “mãozinha”, decerto, da Força GAP, assegurou serenamente a vitória sobre o PS. Na Azinhaga, Vítor Guia reinventou o GIVA de 2005 e esmagou o PS, com o apoio explícito da coligação PSD/CDS. Na Golegã, o PS salva a honra do convento e António Camilo não vai sofrer das mesmas agruras dos seus camaradas, uma vez que atingiu a maioria absoluta.
Ora o cenário do Município foi descrito já como de verdadeiro caos. Que a Golegã “está ingovernável”. Conhecendo os intervenientes, não concordo com tal prognóstico. Fico até satisfeito pela pluralidade de opiniões ter voltado a sentar-se à mesa do executivo camarário. Rio-me baixinho quando ouço quem no passado defendeu a necessidade de executivos “monocolores” dizer hoje que “ter dois vereadores, ainda que na oposição, é muito bom”. É claro que é bom! Mas não é só hoje que é bom: nos quatro anos que passaram também teria sido bom que o exercício do contraditório tivesse sido possível na Golegã.
Veiga Maltez demonstra, apesar da derrota tangencial do seu movimento, ser quem manda na política local goleganense, ganhando o que havia para ganhar nas freguesias de Azinhaga e Pombalinho, empatando tecnicamente nos votos para a Assembleia Municipal na freguesia da Golegã mas perdendo aqui por larga margem para a Câmara… Nair Luz recebeu menos 300 votos que Rui Medinas e comprometeu o resultado final do movimento. Uma coisa resta certa, contudo: José Veiga Maltez vai ser candidato à Câmara Municipal da Golegã em 2017. Permitam-me este exercício divinatório. Decerto não falharei tão estrondosamente como a sondagem encomendada pelo PS da Golegã em Setembro e que conseguiu a proeza de errar em cheio todos os prognósticos. Há dinheiro muito mal gasto nestas campanhas eleitorais.

Actualizado em ( Segunda, 14 Outubro 2013 14:22 )