Opinião
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Polícia ou bombeiro. Professora, enfermeira ou bailarina

Viver neste mundo 
 
Quando se pergunta aos mais pequenos o que querem ser quando forem grandes as respostas são tradicionalmente estas. Os meninos querem ser super-heróis e salvar as pessoas dos maus e de todos os perigos. Escolhem profissões onde possam ser protectores e cuidar dos mais frágeis. As meninas também querem ser cuidadoras, mas para além disso, educadoras e delicadas. A imagem que têm dos pais reflectida numa profissão.
 
Homens fortes, íntegros, salvadores e protectores. Mulheres doces, delicadas, graciosas, como bailarinas, que também educam, cuidam e protegem. Não é muito comum encontrar entre a pequenada aspirantes a consultores informáticos, a web designers, a instaladores e gestores de redes, a engenheiros biomédicos, a auditores financeiros ou a um grande conjunto de novas possibilidades que foram surgindo a par da evolução tecnológica e da globalização.
 
Não quer isto dizer que estas novas profissões sejam menos importantes, antes pelo contrário, a sociedade e a economia reconhecem o seu valor. São prestigiadas e bem remuneradas.
 
O mesmo já não se pode dizer nos nossos dias a propósito dos professores, dos polícias, dos bombeiros, dos enfermeiros e dos artistas. Se actualmente é comum registarem-se queixas a propósito de baixos salários e cortes salariais já não é tão comum ver-se discutida a relação (que devia ser directamente proporcional) entre o grau de responsabilidade e risco e o valor auferido numa determinada ocupação. Tendo em conta a enorme responsabilidade envolvida nas actividades de um enfermeiro será possível que o seu rendimento ronde os 800 euros? E o que dizer dos polícias e bombeiros? E da precariedade que envolve os professores e os artistas? E de um actor ou bailarino que recebe apenas quando consegue trabalhos e que tenta dar umas aulas para sobreviver aos meses em que não tem projectos? E dos artistas sem qualquer protecção na doença ou na falta de trabalho e que vêem na figura dos recibos verdes roubada quase metade dos parcos rendimentos? E dos professores contratados que em maio ainda nem sequer viram publicado o aviso de abertura do concurso para o próximo ano lectivo?
 
Quem trata da educação dos filhos dos consultores informáticos, dos web designers, dos instaladores e gestores de redes, dos engenheiros biomédicos e dos auditores financeiros? Quem cuida deles quando adoecem? Quem patrulha o bairro onde vivem enquanto vão ao teatro? E quem protege a sua vivenda do avanço dos fogos florestais durante o Verão?
 
Como sociedade temos que exigir mais reconhecimento, e obviamente mais direitos, a estes profissionais. É possível devolver o sonho aos nossos filhos. Para que possam ser polícias, bombeiros, professores, enfermeiros ou bailarinos e verem reconhecido o risco envolvido, a enorme responsabilidade, o esforço e a dedicação da sua actividade sem terem que contar todos os tostões ao fim do mês.

Actualizado em ( Terça, 20 Maio 2014 11:14 )