Opinião
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Escola para todos

Viver neste mundo 

A escolaridade obrigatória e gratuita é uma conquista de Abril. Significa que, independentemente do meio social de que é originária, qualquer criança tem acesso à educação, pode obter instrução e aspirar a ser o que sonha ser. Basta estudar e obter bons desempenhos.
 
O problema é o que este paradigma está subtilmente a mudar. As alterações que se têm assistido nas escolas prejudicam o princípio da escola para todos. Mega-agrupamentos e encerramento de escolas, mega-turmas e sobrecarga de trabalho para professores, falta de crédito horário para apoios, projectos, desporto e outras formas de ajudar os alunos a desenvolverem as suas competências. A escola pública que tínhamos há meia dúzia de anos protegia os alunos com mais dificuldades e paralelamente permitia o cumprimento do currículo e consequente sucesso dos bons alunos.
 
Cada vez mais nas escolas se torna difícil responder de forma personalizada às necessidades individuais.
O ministro bem disse que se ia inspirar nos modelos orientais…
 
Mas a verdade é que cada aluno é um individuo. Com suas competências e projectos e afecto a uma realidade socioeconómica. Tem que ter acesso às mesmas oportunidades. E tem que ser respeitado.
 
Estamos a andar para trás no tempo. Estamos a voltar à escola que perpetua as diferenças. Estamos a voltar ao tempo em que só se pode fazer a escola primária na aldeia (e agora, para alguns, já nem isso) porque depois é preciso ir para a cidade para avançar nos estudos e quem sabe daqui por dois ou três anos seja necessário voltarmos àquela realidade em que só em grandes cidades se frequenta o liceu (ou então ficar na zona mas na escola industrial). O ministro gosta desta segmentação. Os bons que seguem o liceu (que convém serem poucos) e os outros que devem o mais cedo possível seguir a via profissional.
 
Mas a educação não é só a preparação de uma profissão.
 
E tudo o resto que uma escola tem para oferecer? O domínio da língua, a literacia, a biblioteca, o saber estar e saber ser, o desenvolvimento do raciocínio, o contacto com o método científico, a formação da personalidade, a realização de projectos, o desporto?
 
Não é um espaço de transmissão de conteúdos. É um espaço de formação. Por isso não pode ser racionado. 
 
A tutela e os sindicatos envolvem-se frequentemente em desavenças e polémicas e o que transparece para a opinião pública é que a luta se trava a propósito de questões laborais.
 
Mas não é isso que está em causa…
 
À parte da questão dos salários, dos cortes, dos concursos e das provas para professores, pais, olhem para o que se está a passar nas escolas e sejam exigentes. Turmas mais pequenas, apoio aos alunos com dificuldades, projectos, salas de estudo.
 
Não se trata de um problema de uma classe mas é um problema que nos afecta a todos. Que escola querem para os vossos filhos? A escola tem que ser de qualidade e para todos e a sociedade tem que lutar (outra vez ) por isso.

Actualizado em ( Segunda, 22 Setembro 2014 15:00 )