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Pagar as dívidas

Eu penso assim

Em Dezembro de 2010, a dívida pública portuguesa era de 151 mil milhões de euros. Em 2011 tinha subido para 174 mil milhões, isto é, aumentou 23 mil milhões. Em 2012 já era de 194 mil milhões. Aumentou 20 mil milhões. Em 2013 aumentou 10 mil milhões, para 204 mil milhões. E em Novembro de 2014 já eram mais 14 mil milhões. Aumentou para 218 mil milhões. Isto é, nos últimos 4 anos, a dívida pública portuguesa aumentou 67 mil milhões de euros. Se continuar a aumentar a este ritmo, em 2020 a dívida será o dobro do que era em 2010.

Fico por isso muito espantado quando leio que o presidente e o primeiro-ministro de Portugal dizem que a Grécia tem que pagar a sua dívida, assim como Portugal está a fazer. Até aqui eu pensava que pagar uma dívida era torná-la mais pequena todos os anos. Nunca imaginei que fosse possível alguém, responsável, poder dizer que paga a sua dívida tornando-a cada vez maior. Eu já sabia que alguns políticos mentem muito, mas nunca pensei que mentissem tanto.

O senhor presidente da república disse mesmo que saiu muito dinheiro dos bolsos dos portugueses para a Grécia e que, por isso, os gregos não podem fazer o que querem. O dinheiro foi emprestado à Grécia quando José Sócrates era primeiro-ministro, e eu lembro-me muito bem do que ele explicou na televisão. Ele disse que Portugal não tinha dinheiro mas tinha crédito barato. Por isso pediu dinheiro e emprestou-o à Grécia, com um juro mais elevado. A partir dessa altura, Portugal passou a ganhar dinheiro com a dívida grega. Não sei o que se vai passar no futuro, mas até agora não saiu nem um euro dos bolsos dos portugueses para os gregos. O contrário é que tem acontecido. Portugal tem sido apenas uma espécie de fiador mas ganha dinheiro com isso.

Por isso se diz em Portugal que se “apanha mais depressa um mentiroso do que um coxo”.

Um governo que diz que quer pagar a dívida mas vê que ela está sempre a aumentar, se for honesto, no mínimo tem que pôr o problema do caminho que está a seguir. Será que desta maneira vai ser possível diminuir a dívida? Ou o caminho tem que ser outro? O novo governo grego quer renegociar a sua dívida porque é a única maneira que tem de a pagar, e ele diz que quer pagá-la. Só tenta renegociar a sua dívida quem a quer pagar. Quem não a quer pagar, não precisa de a renegociar. Quem não é capaz de reconhecer os erros que cometeu não é honesto.

Até agora o caminho seguido na Europa tem sido o caminho da austeridade. Nunca tinha havido um tão grande aumento de impostos em tão pouco tempo. Nunca tinha havido tanta gente no desemprego, tantas empresas na falência, tantos trabalhadores a emigrarem. Nunca tinha havido um tão grande e tão rápido aumento das desigualdades no mundo. Nunca os muito ricos foram tão ricos como agora. Em cada 100 pessoas, uma tem tanto como as outras 99. Mas dessas 99, as 9 mais ricas têm tanto como as outras 90. Por isso, em cada 100 pessoas, 10 controlam 3 quartos da riqueza e 90 controlam apenas uma quarta parte. 

E com tudo isto, as dívidas continuam a aumentar, de tal maneira que se tornará impossível pagá-las, ao menos num espaço de tempo razoável.

Mas o que é que acontece numa família normal quando se descobre que o dinheiro que se ganha deixou de ser suficiente para pagar as despesas? Por um lado tenta diminuir as despesas e ao mesmo tempo tenta trabalhar mais e melhor para aumentar as receitas.

Significa isto que todas as despesas necessárias para aumentar e melhorar o trabalho têm que ser feitas. Só podem (e devem) diminuir as despesas que não são necessárias para que o trabalho possa ser feito. Quando na lista das despesas há um crédito muito grande, evidentemente que esta é uma das despesas que deve ser discutida a fim de ser reescalonada. Acontece isto quando se compra uma casa a crédito e o dinheiro passa a ser pouco para a pagar. Se o prazo for mais longo paga-se menos em cada mês, e assim, uma despesa que era impossível de pagar, passa a ser possível. Quando o credor não é parvo nem estúpido, é sempre possível renegociar a dívida. A alternativa é a dívida ficar por pagar.

Num país passa-se o mesmo que numa família. Devem diminuir-se todas as despesas que não prejudiquem a produção. Não se devem diminuir as despesas necessárias para a produção. A função primeira de qualquer governo é criar as condições mínimas para que todas as pessoas que têm idade para trabalhar o possam fazer dignamente. Tudo o resto é secundário. Se houver trabalho digno para todos, governar é a coisa mais fácil do mundo. Até pagar as dívidas excessivas. Por isso são erradas todas as medidas que causam desemprego e obrigam os mais preparados a emigrar.

São sempre boas todas as medidas que melhoram a formação profissional, principalmente dos que não têm trabalho. São sempre boas todas as medidas que facilitam a criação de empresas. São sempre boas as medidas que melhoram a investigação e o investimento.

São sempre más todas as medidas que obrigam as pessoas a ficar no desemprego. São sempre más todas as medidas que obrigam as pessoas a viver de subsídios e não do trabalho. São sempre más todas as medidas que obrigam as pessoas a emigrar para poderem viver do seu trabalho.

Nunca se deve dar o peixe, mas sim ensinar a pescar.

Temos que fazer a reforma do estado mas também temos que reformar o funcionamento da Europa. A igualdade entre os povos e os estados europeus é uma boa intenção, mas nunca saiu do papel. E de boas intenções está o inferno cheio. Temos que aproveitar a oportunidade que a Grécia nos dá.

Mais colaboração e menos competição.

Actualizado em ( Segunda, 16 Março 2015 12:02 )