Terça, 17 Maio 2011 14:51 Opinião
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Os pentelhos da desgraça
A ideia de que o pior sempre nos tem que calhar é enervante e doentia. Perder o orgulho e a energia do querer vencer é transformarmo-nos em povo pindérico. Tenho esperança que um dia havemos de conseguir dominar e aniquilar este fatalismo doentio. Mas obstáculos há. E há-os na pele de políticos histéricos que nos fazem crer que são, eles próprios, a verdade suprema e tudo o resto é figura de manicómio. Dizem, contradizem-se e desdizem-se num arraial de treta e circense surrealismo. Insultam-se e travestem-se de heróis nacionais. À direita do Partido Socialista nunca a perversão foi tão longe. É o esfolamento e a desagregação social levados a sangue frio e a passos largos. A temperatura sobe e, com a aproximação do Verão, procura-se a sombra das troikas e triunviratos como desculpa para tudo. Como se troikas e triunviratos representassem a sabedoria, a celestialidade e a razão suprema.
Esta palermice profunda enterra-nos como a areia movediça. Ao invés da união e entendimento, busca-se a vingança e o ódio num acto extremo e talibânico. Fazer crer que o partido que governou nos últimos anos é um bando de criminosos ou que o seu líder é o satã culpado de todos os males é um erro grosseiro e colossal. É uma acusação monstruosa que, perigosamente, se começa a transformar numa torrente inquisitorial. Mas a verdade é muito simples para se conseguir ocultar. Os partidos da ala direita sabem bem que, não aproveitando a convergência de factores favoráveis inerentes à crise, no seu lânguido anseio do poder, a travessia do deserto poderá prolongar-se por muitos e muitos mais anos.
Sabemos bem que a economia é uma mecânica global e cada país funciona num ritmo de compressão e descompressão equivalente à sua dimensão. Um pouco como um balão cheio de água, que se movimenta na direcção de uma parede. Quando bate, se rebenta é o desastre. Se não rebenta, há uma face que toca a parede e retrocede, enquanto a oposta ainda se movimenta. Actualmente, se a economia mundial mostra indicadores promissores de retoma, então estamos perante um balão que começou a retroceder o seu movimento.
Portanto, a 5 de Junho, promova-se o voto em consciência e combata-se o abstencionismo. Acima de tudo diga-se a verdade sem rodeios, sem ódios, sem rancores. Transmita-se esperança e não o medo. Promova-se a coragem e não o fatalismo.
Mas, seja qual for o resultado final das eleições, tudo vai ser muito complicado, caso não se saiba perder. Isso é que vai ser mesmo uma grande chatice.
Actualizado em ( Quarta, 18 Maio 2011 19:03 )