Retrospecto

 Há duas épocas, final do ano lectivo e Dezembro, em que faço precisamente isto: fecho os olhos e penso nas coisas boas e nas coisas más do ano (neste caso, lectivo). É um exercício que não tem um propósito muito denso, que serve apenas para eu pensar um bocadinho no que foi o ano e no que pretendo que seja o próximo, de forma a melhorar as coisas más e a repetir ou guardar apenas as coisas boas…
Faço isto desde que entrei na Faculdade (creio que como forma de encarar a evolução da vida como uma coisa natural e extremamente positiva).
Foi um ano de mudança.
Começou com a decisão difícil mas muito desejada de abandonar uma licenciatura e iniciar outra de raiz. A realidade é que foi um ano especial e o motivo foi esta mudança, que acredito que influenciou tudo o resto.
Foi um ano de aprendizagem e de escrita. Com prazer.
Aprendi a escrever contos, recensões; escrevi um monólogo; comecei a escrever aqui e a ter nestas folhas o meu espaço; escrevi aquela que se traduziu na primeira grande reportagem da minha vida. É isto que um dia quero fazer como profissão. Só isto, simples assim.
Foi um ano de realização de sonhos.
Distribuí comida por pessoas sem-abrigo. Esta revelou-se uma experiência bastante enriquecedora do ponto de vista pessoal porque permitiu conversar com muitas pessoas rejeitadas pela sociedade, pessoas boas e com carácter e algumas que o tempo transformou em pessoas loucas (mas não menos felizes, eu creio); umas que viram nas ruas uma opção de vida sem limites físicos, outras que, quase sempre ligadas ao álcool e à droga, não tiveram alternativa. Todas elas procuravam ali uma refeição quente, quase sempre a única refeição quente da semana, mas também procuravam braços abertos, calor humano.
Fiz teatro. Aprendi que o teatro é um espaço que permite conhecermo-nos um bocadinho mais a nós mesmos e aceitar o espaço dos que nos rodeiam, que permite que uma personagem seja cheia de nós, cheia de vida, que permite dar luz a uma cidade, transformar um acaso num grande momento. Ser feliz.
Meus caros leitores, o que estão dispostos a fazer pelos vossos sonhos?