António Mário Lopes dos Santos

Quarta, 21 Setembro 2011 14:17 Opinião
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A Madeira não é tão longe do Continente como muita gente julga

 


Era bom poder desenhar a escrita do tempo

Atento ao progresso do concelho, fui seguindo com muita atenção as inaugurações de escolas e dos estacionamentos. Perguntar-se-ão: que tem uma coisa a ver com a outra? Afirma-se agora que já não há razões para estacionar de qualquer forma, já que a Lena Engenharia Construções investiu no antigo Almonda Parque cerca de quatro milhões de euros, e o torrejano já pode instalar, de forma segura, o seu automóvel, em 333 lugares de estacionamento, ao preço de 0,25 euros por cada 15 minutos, entre as 07$00 e as 23$00. 1 euro/hora… Claro que a Lena Engenharia Construções não é nenhum multimilionário altruísta desses que agora criticam os governos por lhes não taxarem impostos, o investimento tem de ser pago, mais, segundo a sua visão capitalista dos mercados, deve dar lucro. É a sua visão de mundo, e dos seus accionistas. Agora afirmar-se que o problema do estacionamento na cidade deixou de existir, só na cabeça dum político que confunde a nuvem por Juno, e felizmente para ele, vive longe dos problemas económicos e sociais que afectam, na cidade e no concelho, o quotidiano dos cidadãos. Ou será indicativo de que se pensa alastrar o estacionamento pago a diversas zonas da cidade, hoje livre?
As escolas são outro dos investimentos de grande parangona no concelho e que parecem merecer o apoio das populações dos locais escolhidos. O ministro Miguel Relvas falou, segundo a imprensa, no Centro Escolar da Serra de Aire, do estado da Educação em Portugal. «Tem que se acabar com a ideia da escola de secretária, lápis e caneta, temos que criar pessoas para o mercado de trabalho». Quando se colocam crianças do pré-escolar e do ensino básico, do Pedrógão, Alqueidão, Adofreire, Vale da Serra, Casais Martanes, Ribeira Ruiva e Ribeira Branca, Zibreira e Almonda, num centro escolar, no Pedrógão, não se elimina a ligação criança-família-meio ambiente, não se contribui para a desertificação dos lugares despejados, não se gasta em transportes escolares, em passes sociais – e veja-se a guerra que a ideia de que os encarregados de educação, se as autarquias não pagassem, teriam de substituir aquelas, criou nas populações – o que se poupa em escolas colocadas em freguesias históricas, em desemprego docente e discente? E quando a dívida foi transferida para a banca, deixou de ser dívida? Não vai, pelas reduções que se prevêem, continuar a crescer? Já o tenho escrito e a isso regresso. O concelho de Torres Novas sofreu, na segunda metade do século XIX, profundas transformações sócio-mentais (como, aliás, o país) com a explosão das escolas do ensino elementar nas freguesias rurais.
O que, hoje, esta política, incentivada pela concepção educativa do ex-ministro Sócrates e continuada pelos sócio-liberais de Passos Coelho, defende, é a concepção do ensino-mercado, onde alguma tecnologia, como o computador, perspectiva um novo cidadão, saído das linhas de montagens do ensino por objectivos. A minha concepção de ensino não se identifica com o conceito do ministro Miguel Relvas, que pensa a escola como uma fábrica, que até pode ser privada – desde que o Estado compense a excepção – que cria pessoas para o mercado de trabalho. As outras, as de elite, que ele conhece e eu também, com subsídios do Estado, criam os privilegiados que irão dirigir o trabalho e governar os povos.
O projecto da dissolução das freguesias, se no mundo urbano, não cria normalmente, grandes objecções, seguirá o caminho politicamente traçado, de destruição das identidades locais, fechando-lhe os postos médicos, as escolas, rareando-lhe os transportes públicos, eliminando as próprias juntas e assembleias, sem que os locais seleccionados como pólos de ensino, venham a ter, pelas distâncias, pela não integração das crianças nas localidades para onde são deslocadas, pelo ambiente não familiar que choca com o que traz dentro de si, alternativas reais de desenvolvimento. Não é um país de cidadania, de igualdade de direitos e deveres e de oportunidades, de valores democráticos, o que se projecta, com estas escolas (e nem todas estão erradas - o erro está no conceito) e este tipo de estacionamentos. São criações do mercado e para o mercado; para isso, porque não dá lucro, fecham-se escolas do interior, postos médicos, outras instituições de apoio social. Ou eliminam-se os estacionamentos livres, porque os projectos de uns são pagos pelos outros. Como os centros comerciais e os hipermercados, como o individualismo e o fazer-se a si próprio, como a publicidade e as telenovelas onde não há gente, mas ilusões de criar sonhos estéreis, onde o que prevalece é a desigualdade marcada pelo valor monetário, o desinteresse e o abandono a que se sujeitam populações e localidades, tudo em nome de interesses nunca claramente explicados.
O que se passa na Madeira é apenas um exemplo do que deixámos acontecer ao país de Abril.



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Actualizado em ( Quarta, 21 Setembro 2011 14:25 )