José Manuel Rosário

Quarta, 19 Outubro 2011 15:52 Opinião
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Há tantos burros mandando em homens de inteligência que, às vezes, fico pensando que a burrice é uma ciência (1)

 


Os indiferentes ou mais distraídos não ficaram surpreendidos com o resultado dos censos 2011 no concelho da Golegã. Os atentos não entendem a atitude do executivo municipal que, três meses após a publicação dos resultados se tenha remetido ao silêncio "enterrando" a cabeça na areia como se nada se tivesse passado nos últimos 10 ou 20 anos. Na última década, as famílias, os alojamentos e os edifícios registaram um crescimento considerável no nosso país. A população residente em Portugal registou uma evolução positiva crescendo cerca de 2%.
O aumento de hardware não foi compensado com uma actualização adequada de software. Os alojamentos e os edifícios cresceram, só que a politica seguida nos catorze anos que nos precederam, apesar dos milhões disponíveis através dos diversos quadros comunitários de apoio, apesar dos mais de 27 milhões que o actual executivo diz ter investido, o concelho da Golegã perdeu 590 residentes nos últimos 20 anos, contrariando a tendência de subida registada entre 1970 e 1991.
As opções estratégicas preconizadas por Veiga Maltez em praticamente quatro mandatos, levaram a uma perda de 3 residentes por cada mês de "governação". Actualmente, residem no nosso concelho menos de 5500 pessoas, população semelhante aos anos 30 do passado século XX. A herança deixada é má demais para ser verdade, mas é o que temos.
A perda de 228 habitantes no período compreendido entre 2001 e 2011 é resultado da falta de empenho, de políticas desajustadas e desfasadas da realidade e opções pouco consistentes no que toca a retornos. O  
Itinerário Complementar 3 e a nova travessia do Tejo não se concretizaram por falta de empenho local e regional (ambos os concelhos, Golegã e Chamusca perderam população). Em troca, a Golegã, recebeu uns milhares para construir equipamentos desnecessários, pelo menos para já. Os preços elevados da habitação e a inexistência de pelo menos uma zona industrial dotada de infra-estruturas e terrenos disponíveis capazes de cativar novos investidores, levaram à fuga maciça da nossa juventude para concelhos vizinhos. Foram catorze anos de uma política municipal virada essencialmente para receber  
Presidentes da República, Ministros e Secretários de Estado, entidades que permaneceram no máximo 24 horas no concelho. Foi muito tempo a "permitir" que as mais-valias geradas no concelho fossem canalizadas para outros concelhos mais atractivos, com PDM actualizados capazes de articular em pouco tempo o espaço rural com espaço urbano. Durante década e meia o actual executivo criou desemprego q.b. limitando-se aqui e ali a gerar algum emprego precário.
O call center criado no Concelho da Golegã não gerou mais-valias. Funcionou sempre em horário reduzido (só em época de eleições), dispôs e dispõe de apenas uma linha telefónica analógica, um único operador, chamadas barradas para o exterior e por consequência do outro lado da linha um único destinatário: o (249976...). Este serviço foi desenvolvido por um presidente que, gasta ao erário público 500 mil euros por mandato ao manter quatro (2) políticos a tempo inteiro para servir uma população inferior a 5500 habitantes com apenas duas freguesias. Gastos desta grandeza obrigam-no a recusar o transporte escolar às crianças de Mato Miranda e Casal Centeio, convidando mais uns quantos a abandonar o nosso concelho. Cabe-nos a nós, os inteligentes, reflectir e agir em conformidade não permitindo políticas descabidas que originam o decréscimo de população.

(1) Quadra de António Aleixo (1899-1949), cauteleiro e guardador de rebanhos, poeta popular.
(2) Substancialmente superior ao número de terminais de registo de apostas da Santa Casa no concelho da Golegã.

 

Actualizado em ( Quarta, 19 Outubro 2011 16:59 )