Jardins de Riachos no verão

Quarta, 30 Julho 2014 13:59 André Lopes
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Porque uma terra como Riachos só tem sentido se houver qualidade de vida.
 
Na semana passada fizemos um piquenique no Parque 25 de Abril. Os cachopos andaram de triciclo à vontade na parte de cima, ao pé das mesas feias e funcionais, passavam a alta velocidade para a parte de baixo, onde corriam maratonas no ringue e, a gargalhadas estridentes, mandavam uns pontapés desengonçados na bola. É tudo aberto e perfeitamente visível do sítio das mesas. Na plataforma ajardinada lá de cima, fazíamos joguitos e brincadeiras com eles, regressando pontualmente ao convívio comensal do encontro de família que se passava ali ao lado. A luz já alaranjada do sol poente, conforme o vento dava nos ramos indomesticados dos gigantes de seiva, fazia padrões oscilantes de sombra sobre as quiches em cima da mesa. Quando nos cansámos de ir bebericar ao repuxo, fomos buscar umas minis e uns sumóis ao Machado e empurrámos mais uns pastéis de bacalhau.
 
A realidade do piquenique não foi tão romântica quanto faço aqui parecer (podia ter mencionado que um dos putos caiu porque a trotinete empeçou num lancil mal encaixado, ou que outro se recusou terminantemente a ir andar de baloiço por não querer andar na areia, nem de longe tão confortável quanto o piso sintético dos parques infantis modernos), mas para os adultos foi tudo 100%. Vários diziam: «já aqui não vinha há mais de dez anos. Ou vinte!».
 
A verdade é que conseguimos, quase sempre, ignorar os quadradinhos das redes de prisão, e ver que o jardim mais velho de Riachos tem dignidade e utilidade. Precisa de manutenção, mas é um privilégio poder fazer um piquenique num espaço destes bem no centro da povoação. No entanto, uma das pessoas telefonou-nos à hora marcada, porque estavam todos atrasados menos ela. «Mas afinal estás aonde?». Apesar de lhe termos dito que era no ringue, ela ouviu Jardim da Vila. Já nem sabemos o que chegou primeiro ao jardim do ringue, se a degradação ou o preconceito.
 
Os passeios ao Tocha. A procura de ar fresco fora de casa nos serões quentes que o nosso verão já começa a querer obrigar. O Jardim da Vila, projectado na sua essência como um enorme, lindo e fresco relvado, como nunca Riachos conheceu excepto numa rotunda, já só tem palha seca e buracos que fazem logo imaginar pulgas e formigas enormes, das que picam. Sentados na relva não dá, portanto. Mas o lugar faz lembrar aqueles oásis no meio de um triste subúrbio citadino, é aberto para o céu, tem um percurso circulante em pavimento colorido que apela à passeata, tem um parque infantil com atracções das modernas, bancos confortáveis, cafés ali ao lado, um repuxo, casas de banho. As árvores, temos de esperar que cresçam durante uns anos para terem piada, vamos a ver se a ganham. Mas fica mesmo ao pé da casa de muita gente.
 
Passados dez minutos percebemos o que está mal. Não é a falta de relva, pois essa todos lhe traçaram o destino que teve desde o dia 25 de Abril de 2010, quando foi inaugurada com grande circunstância. São os candeeiros. Durante o dia são aprazíveis à vista, com o seu design moderno. À noite não se vêem porque estão quase todos apagados. É de noite fechada e as pessoas que ali andam não passam de silhuetas negras. Às vezes estão dez ou quinze putos a andar nos baloiços, com as pupilas abertas no máximo, e têm de calcular a distância pelo som das vozes.
 
Há que poupar na conta da luz, dizia a autarquia aqui há tempos quando implementou o seu plano de austeridade na iluminação pública em locais seleccionados. Mais uma machadada no efeito de recuperação urbanística do Bairro do Tocha que podia ter sido a função do Jardim da Vila.
 
Acendam as luzes, porra!
Tanta coisa para dizer isto.
 
Actualizado em ( Quarta, 30 Julho 2014 14:04 )