o riachense

Sbado,
12 de Outubro de 2024
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Minimercado Velez, antiga loja da Pipa

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Dos anos 1940 até hoje, passou de Taberna do Pipa, para a Taberna da Pipa, para o Mini-mercado do Velez, três gerações.
“Temos o Manel Chora Pipa / O melhor do Lagar Novo” é assim que os versos feitos há muitas décadas por um homem chamado Marmelo chegam à taberna no Lagar Novo e que começam assim: “Dia vinte vou à inspecção / Hei-de ficar apurado / Adeus tabernas de Riachos / Onde me tenho embebedado”. São 14 quadras que são um autêntico roteiro das 23 tabernas que havia na altura, em todos os cantos da aldeia que Riachos era então.
 
José Júlio Graça Velez lembra-se dos tempos em que a rapaziada anterior à sua geração, por alturas de ir à inspecção, fazia longas farras pelas ruas de Riachos, com os seus barretes, “andavam a noite toda a deitar foguetes e era nas tabernas que paravam para malhar vinho”.
Nunca conheceu o seu avô, mas conhece a história da casa que veio depois a transformar no mini-mercado do Lagar Novo. Manuel Chora da Graça era conhecido por Manuel Chora Pipa. De onde virá a alcunha “Pipa” de uma família bem grande é uma boa pergunta, daquelas que ficam sem resposta exacta.
 
Segundo o Velez, o seu avô construiu a taberna e loja a pensar no futuro da filha mais nova (a sua mãe, Maria Luísa Conceição Graça Velez, nascida em 1920), algures já perto da década de 1940. Os outros nove filhos já trabalhavam no campo.
Manuel Pipa era agricultor e foi sempre a filha que tomou conta da loja e da taberna, ainda em solteira. Casou-se já com 35 anos com João Baptista Velez, trabalhador da fábrica do álcool, quando já era senhora do estabelecimento, com o seu pai já falecido. A taberna e loja da Maria Pipa durou até à década de 1980, quando a firma ficou para o filho.
 
O José Júlio Velez, nascido em 1955, lembra-se das batatas, cebolas, arroz, massa e dos grãos, que vinham a granel e eram depositados nas tulhas, nos antigos armários de mercearia, de onde se tiravam medidas para os clientes das redondezas. Para a taberna, entrava-se na porta ao lado e não havia horário certo, era “de dia e de noite”. À hora de almoço fechava-se a loja mas a taberna ficava aberta, para atender alguém que passasse. 
 
Quando se entrava deparava-se com o balcão que tinha um tampo de pedra mármore, mais tarde substituído por um com revestimento de fórmica. Havia dois elegantes bancos corridos, do género de bancos de jardim, onde os clientes se recostavam por uns momentos a descansar. Eram consumidores de passagem. Velez lembra-se que não era taberna de estar, era taberna de beber. Os clientes, maioritariamente pessoal que trabalhava nas fábricas e armazéns da zona da estação, aproveitavam a excelente localização da taberna, a caminho do trabalho ou de casa, para beber mais um copo. Velez lembra-se de muitas caras desse tempo.
 
Vinho, tabaco, gasosas e cervejas era o que se vendia. O tinto e o branco vinham de Alpiarça, de um produtor que era o Camarinhas (pode ler-se o carimbo no barril da fotografia), chegava em barris e saía em copos de meio litro e de metade (2,5 dl.), por vezes num ou noutro garrafão que as pessoas abasteciam para levar para casa. Os populares copos de meio litro, que caíram em desuso nos nossos cafés, “eram muitos”, lembra o Velez. Antes de ir para a tropa já os aviava, principalmente nas férias da escola. 
A seguir ao 25 de Abril e aos 18 meses de tropa, empregos não havia, e foi ficando. Trabalhou sempre ali.
 
A primeira remodelação aconteceu na parte da loja, no final da década de 1970. Desapareceu a parede que dividia o espaço ao meio, com um armazém que havia lá atrás. Fizeram-se melhoramentos e instalaram-se as prateleiras dando-se assim início ao self-service pelos clientes.
A taberna fechou em 1986, foi então que se tirou também essa parede e ficou a casa ampla do mini-mercado tal com o conhecemos hoje.
Quando ficou com a firma, José Júlio Velez lembra-se que o negócio desenvolveu-se um bom bocado. Agora o sentido é o inverso, é o do retrocesso. “Isto vai caindo por muitos motivos. Há uma tendência para isto mudar tudo, e os clientes mais velhos, também começa a não haver tantos”, responde quando lhe perguntamos como vai o negócio. Mas ressalva: “quando abriram os hipermercados houve uma quebra que não foi tão significativa como é agora”.
 
As quebras das vendas já vêm de há algum tempo, mas acentuaram-se nos últimos anos: “[a responsabilidade] é também a concorrência, mas temos um governo que não simplifica, não nos ajuda”. Todos os anos surgem regras novas e exigências que só complicam a vida ao pequeno comércio, que já vive num contexto socioeconómico que não lhe é nada favorável. A clientela diminui e os preços também, um quilo de açúcar já se vendeu por quase o dobro do preço que se vende hoje.
 
“Por amor de Deus, digam tudo o que querem de uma vez por todas e não andem todos os dias a pedir coisas novas, que acabam por nos encarecer as coisas. Por exemplo, isto da informática é uma coisa impressionante. As leis caem em catadupa, nomeadamente com as actualizações dos programas”, queixa-se antes de explicar que nos últimos dois meses já fez duas actualizações do sistema informático. A mais recente é para fazer o envio dos inventários com o ficheiro SAFT para as Finanças. “Temos de fazer sempre conta com mais não-sei-quanto para o técnico [de informática]. Penso que os nossos governantes acham que somos todos ricos e podemos todos fazer isto… Mas não é bem assim. Com estes custos, alguma coisa que podia ficar não fica nada, vai-se tudo”, resume, a meia dúzia de anos da reforma.
 
José Júlio Velez e Mila Luz Velez gerem a actual loja desde 1987 
João Velez e Maria Pipa na taberna durante a década de 1960 
Actualizado em ( Terça, 13 Janeiro 2015 12:40 )  
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